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Centralizar é urgente

O futebol português precisa de introduzir alterações rapidamente na sua forma de existir, se não quiser continuar a queda livre que vive desde há anos e que o pode levar para um segundo ou terceiro patamar no panorama europeu. É preciso arrepiar caminho.

As mudanças que se impõem devem estar para além da visão curta dos dirigentes portugueses, especialmente dos clubes do sistema que apenas querem olhar para o próprio umbigo, fazendo de conta que nada mais existe para além do seu ego e da cegueira que os faz manter um caminho que pode guiar futebol que os faz existir enquanto dirigentes ao precipício que os pode eliminar. Os dirigentes portugueses não primam pela inteligência na ação e isto pode ser fatal a médio ou a longo prazo para os perigosos caminhos trilhados que têm minado a competitividade do nosso futebol. Não olhar para isto com seriedade e vontade de mudar é como enterrar a cabeça na areia à espera do milagre que recupere a qualidade que existiu no passado. Só que os milagres estão cada vez mais raros e requerem uma crença neles sem limites. Este caminho do milagre não parece nada recomendável.

Os dirigentes dos clubes de alguns países europeus perceberam há algum tempo que as equipas que comandam só conseguiam competir a sério com outros países mais fortes se internamente a competição fosse mais exigente. Para isso era necessário que os clubes de menor projeção tivessem condições para se fortalecerem e aspirarem a algo maior do que era habitual, o que só poderia ser conseguido com mais dinheiro disponível. Neste contexto, a centralização dos direitos desportivos permitiu que as verbas da televisão fossem distribuídas de modo mais equitativo, o que permitia desde logo a constituição de melhores plantéis e, por consequência, de melhores equipas, o que valorizaria em seguida o espetáculo a promover e a rentabilizar financeiramente. As televisões só investem em determinado espetáculo se houver perspetiva de retorno, pelo que esta estratégia valorativa interessava a todos.

Portugal manteve a individualidade dos direitos televisivos e até permitiu absurdamente a criação de um canal de um dos principais clubes que começava a transmitir os próprios jogos. Esta é uma situação única ao nível das ligas principais e não se vê forma de colocar um fim a essa surrealidade. 

A ideia de centralizar os diretos televisivos e a distribuição de verbas de modo mais equilibrado já nasceu por cá há alguns anos e parece ter data definida para a sua implementação. Contudo, alguns dirigentes julgam-se acima de tudo e tentam resistir, mesmo vendo o barco a afundar, a lembrar aqueles músicos que continuavam a tocar enquanto o Titanic se afundava lentamente nas profundezas do oceano. 

As entidades que regem o futebol devem perceber que centralizar é urgente, pois, mesmo que não resolva todos os problemas existentes são um bom contributo para a desejada melhoria. É preciso coragem, nem que a imposição política venha do governo ou a ordem chegue de algum tribunal. Assistir impavidamente ao plano inclinado do futebol português, que o pode conduzir ao abismo quando a Europa vai fazendo mudanças, não é de todo a solução. Haja coragem para fazer alterações que ressuscitem o mundo da bola, enquanto isso é viável.

António Costa

António Costa

15 maio 2025