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Pedras no caminho

Há lutas intermináveis. As pedras podem cair sobre o nosso caminho, e na maioria das vezes, colocamos o pé e ultrapassamos essas dificuldades, uma a uma, deixando-as para trás. Contudo, existem histórias de luta com forças desiguais, intermináveis, que são encaradas como tarefas permanentes, que já não constam na lista de tarefas, mas que fazem parte da vida diária de algumas pessoas. Quando, há uns anos atrás acompanhei a luta diária de algumas pessoas no acompanhamento de outras pessoas que estão sujeitas a handicaps físicos, bastante limitativos, percebi perfeitamente, que esta interminável tarefa de acompanhar, ajudar, carregar, só pode ser realizada com uma enorme carga de amor. Percebi, que esta história interminável de dificuldades é uma oportunidade de mostrar a mais verdadeira forma de amor. Esta semana foi comemorada o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (3 de dezembro). Tudo o que se possa fazer, discutir, esclarecer, será sempre pouco. Desde 1998 que a ONU instituiu este dia, para sensibilizar para o tema relativo à deficiência, e tudo o que envolve a defesa dos direitos e bem-estar desta população. O assunto será sempre muito sensível, mas acima de tudo é preciso investir no suporte especializado de apoio. Este ano o tema é “garantir a inclusão e a igualdade” da pessoa com deficiência. A minha experiência é relativamente diminuta nesta área, mas tenho a opinião que “incluir” não é colocar todos com o mesmo padrão de estímulos e enquadramento. Inclusão é proporcionar igualdade de oportunidades, encontrando os estímulos necessários e ajustados às pessoas. O grau de necessidades e carências não são iguais para todas as pessoas com deficiência. Colocar alunos com elevados graus de handicap, em turmas normais, cheias, sem apoio especializado, não é incluir, não é estimular, nem dar oportunidades iguais. Garantir igualdade, para estas populações, não é colocá-las nas mesmas circunstâncias que todos os outros alunos, porque as carências e as necessidades são muito específicas. Percebe-se que à luz dos princípios da economia esta solução fique muito mais “barata”, e, poderão existir eventualmente aspetos que a sustentem e justifiquem. Temos que proporcionar e avaliar todas as hipóteses, mas existe um padrão que devemos atender: ir ao encontro do estímulo mais correto. Já é difícil aplicar esta ideia para uma turma, repleta de diferenças e necessidades distintas, mas, é ainda muito mais difícil encontrar soluções para estimular de forma especial quem tem (grandes) necessidades e muito especiais, e eventualmente, muito menos eficaz. E isto não é “inclusão”, nem proporcionar “igualdade”. Igualdade não é dar tudo a todos. Incluir é criar oportunidades “iguais”, mas indo ao encontro das caraterísticas e necessidades de cada um. O apoio e o amor são nucleares para estruturar, de forma sustentada, a inclusão deste tipo de pessoas. Está provado que a facilidade no processo ensino-aprendizagem não é eficaz, mas tanta dificuldade, exige medidas tecnicamente estudadas e especiais. A neurociência cognitiva está a pôr em causa muitas das metodologias, universais, de ensino utilizadas, e ao mesmo tempo tem justificado, com muitas evidências, que existem outras formas mais eficientes para aumentar a eficácia do processo de aprendizagem. No meu entender ficamos todos a perder com este tipo de inclusão.
Autor: Carlos Dias
DM

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7 dezembro 2018