twitter

Quadros competitivos e goleadas que incomodam…

Semanalmente, nos jornais regionais, acompanho os resultados dos clubes do distrito. Embora, por vezes, haja jogos desnivelados, tal já não me espanta, pois na Champions League, ainda esta semana, houve goleadas à moda antiga entre clubes de campeonatos de topo da Europa, com equipas italianas, espanholas e alemãs, a integrarem o grupo dos que foram derrotados por números mais expressivos.

Voltando à realidade regional, aproxima-se aquela fase do ano em que nos escalões de formação mais jovens (futebol de 7) surgem resultados ainda mais díspares - com goleadas de dois dígitos - que podem conduzir ao abandono precoce de centenas praticantes.

De há anos a esta parte, em artigos de opinião, tento alertar os decisores para a incoerência e falta de exigência que emana destes quadros competitivos. Cheguei ao “atrevimento” - enquanto responsável técnico de um clube da região - de enviar uma carta aberta à AF Braga com sugestões para minimizar estes atentados à formação desportiva. Infelizmente, as propostas caíram em saco roto, pois tudo se mantém na mesma.

Uma das ideias apresentadas - as primeiras fases serem apenas a uma volta, agrupando depois, na segunda fase, os melhores e piores dos diferentes grupos - vejo-a hoje pensada e sugerida por altos dirigentes do futebol nacional para ser usada na… 1.ª Liga! Ironia das ironias: o que recomendei para o futebol de base é agora considerado solução para a falta de competitividade interna que depois é cobrada, com juros, na Europa. Além das goleadas, outro erro crasso acontece quando miúdos que treinam três a quatro vezes por semana, entre 60 a 90 minutos por sessão, no fim de semana - quando querem mostrar o que aprenderam - jogam apenas 20 ou 30 minutos, se os treinadores forem conscientes e derem oportunidade a todos.

Nestes escalões, o ideal seria que cada equipa realizasse dois ou três jogos num dos dias do fim de semana, como acontece nos torneios de Natal e Páscoa. Porque não, então, aproveitar os muitos espaços de qualidade existentes, e juntar quatro equipas num mesmo campo, em formato de concentração? Poderiam coexistir dois jogos em simultâneo (no sentido lateral), e cada equipa faria três jogos numa manhã. Não há marcações? Usam-se os cones dos treinos para delimitar espaços. No Natal, terminaria a 1.ª fase (a das goleadas) com todos a terem já mais tempo de jogo do que numa época inteira, com os atuais quadros competitivos. Depois far-se-iam novas séries, agrupando os primeiros de cada série para jogarem entre si, e os da metade de baixo da tabela noutros grupos, equilibrando o nível de jogo e dando hipóteses de sucesso a todos. No final da época, haveria prémios para os vencedores de série, possibilitando a crianças de equipas menos apetrechadas a oportunidade de ganharem jogos e receberem reconhecimento, algo impossível no modelo atual.

Formar é, antes de mais, permitir que cada criança sinta, e encontre no jogo, o prazer que a incentiva a querer continuar… a jogar. E porque, quando se ganha/perde por muitos, perdem todos, também tenho sugestões – num próximo artigo – para ajudar a diminuir esse flagelo.

 


 

Carlos Mangas

Carlos Mangas

24 outubro 2025