A psoríase é uma doença cutânea inflamatória, que além da pele pode atingir as articulações, na forma de artrite psoriática. Classicamente é caracterizada por lesões avermelhadas e descamativas, que frequentemente afetam os cotovelos, joelhos, couro cabeludo, podendo ainda atingir as unhas. Apesar de surgir geralmente em adultos jovens, pode iniciar-se em qualquer idade afetando homens e mulheres. A predisposição familiar acaba por ter um papel fundamental no risco da doença, embora a sua causa ainda não seja completamente reconhecida.
O curso da doença é caracteristicamente crónico, com períodos de agravamento e remissão. Felizmente, a maioria dos casos são ligeiros, no entanto, em alguns casos a doença pode ser extensa e, consequentemente, interferir significativamente nas atividades do dia-a-dia. O envolvimento das unhas, a associação a artrite psoriática, que pode ocorrer em cerca de 30% dos casos, além de outras comorbilidades como diabetes, obesidade e síndrome metabólico, aumentam ainda mais a complexidade da doença e o seu impacto na vida dos doentes com psoríase.
O tratamento deve ser sempre individualizado e depende da gravidade e extensão das lesões, com especial importância para certas áreas consideradas sensíveis, como o couro cabeludo, palmas e plantas e genitais. Pode incluir tratamentos locais, fototerapia, tratamento oral e, mais recentemente, terapêuticas biotecnológicas. Contudo, permanece como uma doença sem cura, sendo que o objetivo está assente no controlo das lesões, das comorbilidades associadas, com enfoque na melhoria da qualidade de vida global do doente.
Um aspeto crucial na abordagem da psoríase é compreender o seu impacto psicossocial que é frequentemente subestimado, mas que tem repercussão importante na vida dos doentes. As lesões, sobretudo as mais visíveis, podem causar vergonha, isolamento social e discriminação, afetando a autoestima, a vida profissional e os relacionamentos interpessoais. Erradamente e sobretudo por falta de informação de qualidade, a psoríase continua a ser considerada, uma doença contagiosa contribuindo para o aumento do estigma e para o sofrimento emocional. Particularmente vulneráveis ao bullying e à exclusão social, as crianças e adolescentes com psoríase são um grupo de doentes em que o aspeto psicossocial da doença apresenta uma importância mais notória. O stress emocional afeta ainda diretamente o sistema imunológico contribuindo para um ciclo vicioso de maior inflamação, agravamento das lesões e consequentemente maior sofrimento psicológico.
Além de uma abordagem multidisciplinar ao nível hospitalar, com contribuição da Dermatologia, Reumatologia e apoio psicológico, a educação e a informação correta são fundamentais para desmistificar a psoríase. Está cientificamente comprovado que campanhas públicas e a educação dos pacientes por parte dos profissionais de saúde ajudam a reduzir o preconceito e a promover a inclusão. De facto, explicar que esta
doença não é contagiosa, mas sim uma doença inflamatória crónica, é um dos pontos centrais para minimizar o estigma entre estes pacientes.
Neste Dia Mundial da Psoríase, é importante reconhecer que esta doença vai muito além da pele — afeta o corpo, a mente e a vida social. Reconhecer todas estas dimensões é uma responsabilidade, não só dos Profissionais de Saúde, mas de todos como sociedade.
Dia mundial da psoríase: desmistificar a doença e reduzir o estigma social
Miguel Ribeiro
24 outubro 2025