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De perseguidor a perseguido…

Celebra-se hoje a Conversão de Paulo (Saúl ou Saulo, em hebraico), um acontecimento ímpar que mudou a vida deste homem e o rumo do cristianismo nascente. Tão importante que Lucas, o autor dos Atos, usou de um expediente da narrativa, a redundância textual, para o apresentar: um relato (9, 1-19) e dois discursos autobiográficos (22, 4-21 e 26, 9-18). Nas suas Cartas, o próprio Paulo faz eco deste acontecimento (1 Cor 9, 1; 15, 9-10; Gl 1, 11-24).

Juntamente com Pedro, Paulo foi a figura maior do cristianismo das origens, a sua vida pode resumir-se ao título deste texto e divide-se em quatro grandes momentos.

1. O judeu praticante (do nascimento aos 28 anos)

Nasceu em Tarso, na Cilícia (atual Turquia), pelo ano 5 da era cristã. Tarso era um centro de cultura e de comércio, servido por um movimentado porto de mar e atravessado por uma estrada que ligava o Ocidente ao Oriente.

De ascendência judaica, foi educado na Lei de Deus (Torah) e na tradição dos antigos, primeiro em casa e na sinagoga e, mais tarde, na escola de Gamaliel II, em Jerusalém (At 22, 3). Era um judeu zeloso, do partido dos fariseus, e é nessa condição que aprova a morte de Estêvão (At 8, 1) e persegue os cristãos.

Do pai herdou a profissão de fabricante de tendas (At 18, 3), com que provia ao seu sustento, e a cidadania romana (At 16, 37; 22, 25), que o tornava membro oficial da cidade, com direito a participar na assembleia do povo.

2. O convertido fervoroso (dos 28 aos 41 anos)

Quando levava a cabo uma ação de repressão contra os membros da comunidade cristã de Damasco (a quase 250 Kms a norte de Jerusalém), Paulo passou por uma experiência de mudança: foi questionado, caiu por terra e ficou cego (At 9, 1-19). É em Damasco que Ananias, seu guia espiritual, o introduz na fé cristã.

Durante treze anos de silêncio, reflexão e maturação, andou por muitos lugares (Arábia, Jerusalém, Tarso e Antioquia), identificou-se com Cristo e descobriu nele o sentido para a vida: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20).

3. O missionário itinerante (dos 41 aos 53 anos)

Quando estava em Antioquia da Síria, a comunidade decidiu enviar Paulo em missão, juntamente com Barnabé (At 13, 2-4). Começa assim a primeira de três viagens missionárias em que, percorrendo estradas, cidades e mares, sujeito a inúmeros perigos (2 Cor 11, 23-27), Paulo anunciou o evangelho e fundou comunidades cristãs, com as quais mantinha contacto, por mensageiros que lhes enviava e cartas que lhes dirigia.

Na primeira viagem, evangelizou os judeus (At 13, 16-41); na segunda, dirigiu-se aos pagãos (At 17, 22-31) e, na terceira, organizou as comunidades (At 20, 17-35).

4. O prisioneiro e o organizador (dos 53 anos até à morte, aos 62)

Regressado da terceira viagem, Paulo vai ao Templo e é preso (At 21, 26-36). Na prisão, durante quatro anos (dois em Cesareia Marítima [At 24, 27] e dois em Roma [At 28, 30]), escreveu as “cartas do cativeiro” (Efésios, Colossenses, Filipenses e Filémon) com que fundamentou a fé e organizou as comunidades.

Uma vez libertado, viveu mais alguns anos. Pouco sabemos dessa altura, mas a tradição diz-nos que voltou a ser preso e foi levado para Roma, aquando da perseguição de Nero. Foi morto, fora dos muros da cidade de Roma, pelo ano 67. Cortada pela espada, a cabeça de Paulo saltou três vezes e parou. Nos sítios em que saltou, teriam aparecido três fontes e, por isso, o lugar passou a chamar-se Tre Fontane. Sepultado nas catacumbas da Via Ápia, o seu corpo foi depois levado para a catedral de S. Paulo Fora de Muros.

Paulo ficou para a história como o judeu zeloso que se tornou Apóstolo dos gentios; o pensador que fundamentou a fé cristã; o organizador de comunidades cristãs. De perseguidor dos cristãos a perseguido por causa de Cristo se fez o seu percurso e se teceu a sua vida.


Autor: P. João Alberto Correia
DM

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25 janeiro 2021