twitter

Alcoólicos Anónimos (AA) 90 anos depois – onde e como tudo começou?

 

 



 

Na cidade de Nova York, no mês de novembro de 1934, Bill W. conheceria os seus primeiros dias de sobriedade através dos Grupos Oxford, uma comunidade cristã de bases ecuménicas indicada por Ebby T. um alcoólico que permanecia sóbrio graça a estes grupos. Logo em dezembro, Bill chegaria cambaleante ao Hospital Charles Towns onde já tinha sido internado algumas vezes. O Dr. Silkworth, seu médico, num dado momento da consulta disse-lhe: "(…) o alcoolismo é uma doença caracterizada por uma obsessão mental que condena o sujeito a beber (…)". Bill ficou impactado! Seria esta a mensagem mais poderosa que um alcoólico poderia receber?

Em maio de 1935, durante uma viagem de negócios, Bill sentiu um forte impulso para beber e, desesperado, tentou encontrar alguém para conversar. Através de uma série de telefonemas, foi dar com Henrietta Seiberling, uma ativa mulher dos Grupos Oxford e amiga do Dr. Bob S., outro alcoólico à procura da sobriedade. Henrietta sentiu que aquele encontro poderia ajudar também ao Dr. Bob e organizou na sua casa o encontro histórico entre Bill W. e o Dr. Bob S. Na ocasião, Bill partilhou a sua experiência e compreensão do alcoolismo, aquela mesma que o Dr. Silkworth lhe tinha transmitido, criando-se uma identificação imediata entre ambos. Este encontro tornou-se o ponto de partida para a criação dos AA.

O dia 10 de junho de 1935, data a partir da qual o Dr. Bob permaneceria sóbrio, é também uma data comemorativa para os AA a nível mundial, uma vez que reflete o resultado do trabalho de dois alcoólicos, considerados irrecuperáveis, à procura da sobriedade. Ambos permaneceram sóbrios até o último dia das suas vidas. Bill Wilson faleceu a 24 de janeiro de 1971, com 37 anos de sobriedade e o Dr. Bob Smith faleceu a 16 de novembro de 1950, com 15 anos sóbrio.

Alcoólicos Anónimos nos dias de hoje.

90 anos depois, o AA continua a ser uma referência no auxílio e apoio de pessoas com Perturbação do uso de Álcool (conforme designação do DSM-5-TR). Presente em mais de 180 países, continua a crescer, tanto em número de grupos quanto em diversidade de membros. A pandemia de Covid-19 acelerou a digitalização e expansão dos AA. A experiência online mostrou-se eficaz, permitindo a participação de pessoas que antes teriam tido grandes dificuldades em aceder a um grupo presencial, alargando e enriquecendo a experiência de outros tantos que hoje partilham em grupos além-fronteira dos países onde residem.

Apesar das inovações, os princípios fundamentais dos AA permanecem inalterados: o anonimato dos seus membros, a autossuficiência financeira, a ausência de profissionais contratados e a ênfase no apoio mútuo, são bases inquestionáveis. O anonimato é central porque garante um ambiente seguro de privacidade.

O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber. AA não está ligado a nenhuma seita, religião, instituição política ou organização, promove, no entanto, o desenvolvimento da espiritualidade, partindo de valores universais compatíveis com quaisquer crenças ou ausência desta e a vivência de Doze Passos para a recuperação pessoal. O programa dos Doze Passos propõe uma jornada de autoconhecimento, aceitação e mudança. Tudo é sugerido, nada é obrigatório. A participação dos membros nos grupos promove mudanças profundas, não só no que se refere à abstinência, mas também na reconstrução da própria identidade, na recuperação dos laços familiares e na reintegração à vida comunitária.

Em Portugal existe quase uma centena de grupos ativos. Alguns funcionam presencialmente, outros online e ainda os há em formato híbrido. As linhas de ajuda disponíveis encontram-se no site oficial: www.aaportugal.org



 

default user photo

Pável Modernell

5 outubro 2025