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A lição de Adriano Moreira

Aos 95 anos, este grande Senhor da vida pública e da cultura portuguesas, antigo Presidente do CDS e deputado por este partido à Assembleia da República, professor catedrático da Universidade Técnica de Lisboa e doutorado pelo ISCSP e antigo Ministro do Ultramar no regime anterior, foi justamente homenageado pelo seu partido no 27.º Congresso, realizado em Lamego, no passado fim de semana.

Com uma argúcia e lucidez impressionantes, capazes de fazer inveja aos mais jovens e talentosos quadros políticos, o Professor Adriano Moreira aproveitou a reunião magna do CDS para proferir uma lição magistral que, em minha opinião, foi a marca de água do Congresso de Lamego, perante o qual a líder reeleita, Assunção Cristas, fez questão de apontar o homenageado como exemplo maior dos militantes vivos. E o Prof. correspondeu inteiramente ao desafio, dissertando com oportunidade e sabedoria, entre outros temas, sobre a matriz ideológica do CDS e a necessidade de a actualizar e adaptar às mudanças do mundo actual.

A imagem do “eixo da roda”, que sempre gostou de citar – a roda anda, passa por muitas mudanças e o eixo acompanha a roda, mas não anda –, na qual o eixo são os valores, perpassou pela memória dos congressistas que o ouviram com enlevo e respeito, quando o ilustre homenageado assegurou que o partido não precisava de mudar de paradigma.

Os valores estatutários e os princípios programáticos da solidariedade, da família, da liberdade individual, do personalismo cristão, do primado do bem comum e os demais que enformam a doutrina da democracia-cristã, pela sua natureza essencial, são perenes, carecendo apenas de ser adaptados às alterações e circunstâncias da sociedade e do mundo.

E para melhor compreensão deste ensinamento, trouxe à colação a prática pastoral do Papa Francisco, que tem procurado adaptar o Evangelho às novas exigências e circunstâncias da vida hodierna, num louvável esforço de renovação da Igreja, sem mudar o texto dos livros sagrados.

Para além disso, pegando na expressão que celebrizou no Parlamento – “Em Portugal, a culpa morre solteira” –, confessou, alto e bom som, que “comigo a culpa não morre solteira. Eu morro com culpa, porque a minha geração deixou uma pesada herança às gerações futuras. Não fizemos tudo o que era possível.” Ora uma atitude destas é um exemplo de coerência, humildade e coragem próprio dos grandes homens que não pode deixar de se sublinhar para lição dos políticos da actualidade e dos vindouros.

E depois de abordar outros temas que lhe são caros, como os de Portugal como país que tende para a exiguidade e como Estado exógeno, isto é, que sofre as consequências de causas em que não participou, instou o CDS a investir no ensino e na investigação científica, no mar, na plataforma continental, na CPLP, como questões importantes da soberania nacional.

E foi reconfortante ver que estes conselhos e ensinamentos foram recebidos com reconhecimento e agrado por Assunção Cristas e pelos congressistas em geral, como se de um precioso legado se tratasse, numa evidente manifestação de espírito de unidade de quantos se abrigam na grande Casa Mãe do centro-direita nacional.

Para quem antevia um possível confronto entre o sector mais liberal e cosmopolita e um grupo mais conservador e doutrinário do partido, ficou patente que, sem unanimismos e com uma salutar diversidade de opiniões, o CDS saiu do seu conclave com um renovado espírito de família comum e com uma equipa dirigente confiante, ambiciosa e bem preparada para os grandes desafios que o país tem pela frente.

E essa convicção, mais do que a homenagem que lhe foi prestada e que tanto o emocionou, foi sem dúvida a melhor prenda que o Prof. Adriano Moreira teve do Congresso. Merecidamente. Sentidamente.


Autor: António Brochado Pedras
DM

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16 março 2018