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O desfile militar dos dias 25

 

 

O 25 de Abril de 1974 e o 25 de Novembro de 1975 são antagónicos ou complementam-se? Eis a questão, como diria Shakespeare no seu mais que célebre “ser ou não, eis a questão”. São água que correu debaixo da mesma ponte mas diferentes nos seus destinos. O 25 de Abril de 1974 abriu a gaiola; o 25 de Novembro de 75 deu a liberdade de voar. As forças armadas que foram os grandes autores destes dois dias, fragmentaram-se em extremistas e moderados. Juntos ganharam o 25 de abril de 74, é certo, mas os moderados ganharam a democracia parlamentar. Os primeiros eram uma fação ao serviço de uma ideologia e os segundos foram uma ideologia de uma nação. Guerra entre as duas fações? Sim. O país esteve à beira de uma guerra civil. O bom senso dos moderados conseguiu derrotar os extremistas e o país entrou numa democracia parlamentar. Faz sentido comemorar o 25 de abril de 74? Claro e com todo o merecimento que se lhe deve. Faz sentido comemorar o 25 de Novembro de 75. Claro e com todo o reconhecimento que se lhe deve pela consolidação da democracia que hoje vivemos. Há entre estes dois 25 algum antagonismo ? No povo não há, mas nota-se que a esquerda comunista não celebra o 25 de Novembro por razões ideológicas; os saudosos da direita radical também não, por saudade dos privilégios que perderam. Têm razões uns e outros porque ambos perderam. Estes vencidos têm direito aos seus ais. Nas entrevistas que as televisões fizeram ao escasso povo que assistia ao desfile militar do último 25 de novembro, notou-se que se não fora o espetáculo do desfile para ver, já poucos ou nenhuns sabiam o que se comemorava. Esta última comemoração de 25 de Novembro foi, no mínimo, pífia, porque já ninguém sabe o que foi; houve um nítido alheamento popular; os que ali estavam, não sabiam o que se comemorava. Penso que os dois 25 devem ser comemorados na Assembleia da República e não em desfiles públicos porque já valem pouco como símbolos do que foram. O sol dos mortos vem da glória dos vivos, mas infelizmente não perdura indefinidamente; passa ao esquecimento mesmo que isso nos pareça uma enorme ingratidão. Mas é assim com tudo porque o tempo é o grande soberano no esquecimento. A sobrevivência exige vida. Para lembrar, basta ter memória; para recordar implica ter amado. E estes já são pouco jovens para nos dizer quanto amaram.

Paulo Fafe

Paulo Fafe

1 dezembro 2025