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A inteligência artificial

 

 

Eu sou, por feitio, uma pessoa que tem pena de não viver no futuro, não só pelos avanços tecnológicos que se perspetivam no horizonte próximo, como pela maneira como vai ser construído. As máquinas substituirão as pessoas e em que escala isso poderá acontecer? Um dia destes, ao fazer chique-chique no comando da televisão, dei de caras com um robot formatado de inteligência artificial a fazer de leitor de noticiário; se a pantalha não me dissesse que era uma criação desta IA, eu não saberia distinguir entre a personagem robô e um locutor verdadeiro. E a verdade, nua e crua, pôs-me logo a seguinte questão: quais profissões correm o risco de desemprego com isto? O apresentador artificial estava de tal maneira concebido que até a maçã do pescoço mexia como se fosse dum homem real e a sua voz dizia perfeitamente com a linguagem oral-labial; uma vez a RTP deu-nos uma demonstração como poderia um holograma apresentar a imagem artificial em vez de pessoas reais; podem apresentar alguém que está noutras paragens, transformando a ubiquidade uma possibilidade. Que a tecnologia é a água que corre forte no rio da inovação é um facto. A isto se chama progresso e contra este facto não há argumentos, como é costume dizer-se. Com a IA os acontecimentos serão relatados com pormenores e, tão rapidamente, que transformará a nossa índole social tão profundamente que será preciso haver meios e processos de distinguir o ser humano do ser artificial e não permitir que esta tecnologia seja a causadora de uma evolução de extinção dos postos de trabalho. O receio é nosso, ainda se não tornou em pânico geral, mas já há quem queira exigir um “juramento de Hipócrates” contra a aplicação maléfica de tal força evolucionista. Há inteligência artificial a robotizar intervenções cirúrgicas, há investigação documental a substituir a investigação académica de teses de mestrados e doutoramentos, os professores podem vir a ser robôs e com eles o ensino presencial será dispensado. Há inteligência artificial nas redações dos jornais chegando o acontecimento mais rápido transformando a última hora numa coisa do passado. Parece ficção mas, na verdade, é a realidade já presente com sintomas de futuro muito acelerado. Temos um remédio que em vez de curar pode matar. Como dizia Gil Vicente, na farsa de Inês Pereira “antes quero asno que me leve do que cavalo que me derrube”.



 

Paulo Fafe

Paulo Fafe

24 novembro 2025