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O que balem os sindicatos?




 

 


Na nossa linguagem minhoto-nortenha, por vezes, trocamos algumas letras - sobretudo na sonoridade falante - o que pode confundir alguns puristas da língua, embora saibamos o que significa tal ‘erro’ na nossa linguagem.
O título deste texto tem ‘balem’, quando deveria escrever-se: ‘valem’. Mas o objetivo é outro: busquemos no ‘balir’ uma espécie de tentativa de conjeturar o que fazem, de facto, muitos dos sindicatos...

1. Lemos no dicionário da Porto Editora: ‘balir’ - verbo intransitivo: soltar balidos (a ovelha ou o cordeiro).
Consultando dados da militância sindical ficamos a saber (pela internet).
- Em Portugal, a taxa de sindicalização é de aproximadamente 7,6%, o que corresponde a cerca de 380 mil trabalhadores filiados, sendo que a taxa tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Um estudo da OCDE indicou que em 2016, a percentagem de trabalhadores sindicalizados era de 15,3%...
- Não existe um número exato e atualizado de sindicatos em Portugal, mas o número de sindicatos ativos diminuiu significativamente desde os anos 90. Em 1992, o número máximo registado foi de 407, mas em 2017, estimava-se que existiam menos de 300...
- Sindicatos (operacionais) da CGTP: num documento de 2017, a CGTP estimou que menos de 300 dos seus sindicatos eram operacionais.
- Sindicatos da UGT: não há números divulgados...oficialmente.
2. Diante destes dados algo fiáveis podemos e devemos questionar o que valem as propostas e iniciativas das centrais sindicais? Será que a sua atividade - bem como a dos sindicatos que aglutinam - está acertada com o ritmo de trabalho atual? Qual a razão de haver tão poucos trabalhadores sindicalizados, se temos cerca de 5,3 milhões de pessoas empregadas? Será que a elevação da escolaridade – um em cada três trabalhadores tem pelo menos o ensino superior – fez cair a militância sindical? Se assim for, por que continuam os sindicatos (em geral) e as centrais sindicais (em particular) a fomentar, mesmo que tacitamente, a conflitualidade social e laboral?

3. Pode ser que agora se perceba o ‘balem’ do título, pois, em certas circunstâncias, parece que uns são os que mandam e outros os que seguem na fila, sem-tugir-nem-mugir. Não é nada interessante que vivamos num ambiente onde parece favorecer-se mais a contestação do que o trabalho.
- Fique claro e como declaração desinteressada: não tenho capital, não vim de qualquer berço dourado, pelo contrário, e vivo do trabalho que faço (na vocação e formação adquirida), pagando os impostos devidos, sem regalias nem prebendas.

4. Não deixa de ser preocupante que se queira continuar a reger as questões laborais com a mesma visão, idênticos critérios e com as mesmas armas de quando aconteceu a revolução de 1974 (abril), corrigida em 1975 (novembro). Certas forças e agremiações pouco ou quase nada mudaram, tal a fixação nos ‘direitos adquiridos’ – sabe-se lá com que meios e artimanhas – e pouco maleáveis à mudança dos tempos... quase da era da marreta para o teclado.

5. Não me interessa quem tem razão - quem propõe a mudança de ‘código de trabalho’ ou quem o contesta, parece-me que não podemos continuar a lutar com armas de há cinco décadas e pretendermos ter os resultados mais favoráveis a todos, empregadores e empregados, promotores da riqueza ou recetadores das regalias, entidades privadas ou prestadores de serviços públicos, mais escolarizados ou menos interessados na sua valorização... todos fazem parte de uma tarefa de construirmos algo de melhor do que encontramos... Quando se abrirão os olhos dos que ainda vão na fila de forma acrítica, mas que beneficiarão no final da jornada!  



 

António Sílvio Couto

António Sílvio Couto

24 novembro 2025