Ser árbitro é uma tarefa bastante complexa. Isso está muito evidente em muitas circunstâncias, especialmente na formação inicial do percurso dos árbitros, onde a acuidade visual ainda está pouco treinada. Mas, a arbitragem é um pilar essencial para o processo desportivo. Um bom árbitro demora alguns anos e muitos erros. Tal como um praticante desportivo, um árbitro precisa de formação inicial, mas depois vem um trabalho contínuo, sempre inacabado, de preparação física, técnica e atualização dos procedimentos de arbitragem.
A opinião pública olha para a arbitragem, muitas vezes, como uma atividade “complementar” ao jogo, porém, e na verdade, é um elemento nuclear para o decurso do mesmo, porque sem árbitros (competentes, imparciais e bem preparados), não há equidade, nem credibilidade nas provas. O problema é que em Portugal não há margem de erro nem para os árbitros e nem para os treinadores.
O Desporto Escolar tem desenvolvido ao longo dos últimos anos um plano estruturado, em colaboração estreita com as federações, para a mobilização dos alunos para esta nobre ação. Esta é uma ação extraordinariamente importante. Como é óbvio, não é suficiente que a formação seja teórica. É a prática no terreno, com erros, que permite progressão. A evolução carece do estudo de casos, simulação de situações, análise de jogo, inteligência emocional na gestão de conflitos, tudo isto como forma de capacitação dos árbitros de uma série de competências, que lhes permita avaliar a situação, tomar uma decisão rápida e ajustada, tudo isto sob muita pressão, que vem da bancada, do campo e dos bancos.
Nos últimos tempos, o futebol português tem vivido várias polémicas relacionadas com decisões de arbitragem, muitas vezes amplificadas pelos meios de comunicação e pelas redes sociais. Estas situações mostram como a arbitragem sempre foi um tema sensível, porém hoje em dia, está escondido na facilidade do escárnio das redes sociais e das bancadas “ofendidas” com as derrotas.
Neste contexto, os Conselhos de Arbitragem desempenham uma função central. Cabe-lhes não só organizar a formação e a avaliação dos árbitros, mas também garantir que existe um acompanhamento próximo e regular durante as competições. Este acompanhamento é fundamental para corrigir erros, promover a uniformização de critérios e reforçar a confiança dos árbitros nas suas próprias capacidades. Além disso, os CA devem servir como mediadores entre os agentes desportivos, protegendo a integridade dos árbitros e defendendo a sua independência face a eventuais pressões externas. Pelo que a recente iniciativa do Conselho de Arbitragem do Futebol em fazer uma conferência de imprensa para esclarecer alguma crispação contra os árbitros, parece-me uma medida inteligente e poderá amenizar ou diluir a “pressão” sobre a arbitragem.
Há duas figuras no desporto que, pessoalmente, nunca “invejei”: ser árbitro ou guarda-redes, porque estão sempre sujeitos a ataques, a boladas e a vantagem é sempre de quem ataca…