Há 900 anos atrás, Afonso Henriques, homem grande com apenas 14/16 anos, armou-se a si próprio como Cavaleiro na Catedral de Zamora. Dom Afonso Henriques é o fundador da nacionalidade portuguesa e protagonista, mais tarde, do célebre cerco de Badajoz, o qual marcou de forma decisiva o destino da Península Ibérica. Tudo isto contribuiu para identidade colectiva, a qual se construiu por volta da independência e afirmação política de Portugal, precedido do Condado Portucalense com personalidades históricas como guerreiro conquistador e repovoador, face aos muçulmanos que habitavam entre Douro e Minho, D. Vímara Peres, donde provém a palavra Vimaranenses, habitantes de Guimarães, (Corunha, 820 — Guimarães, 873), e cuja estátua equestre está perto da Sé do Porto ou do Senhor da Casa de Sousa, o Capitão-General entre Douro e Minho, D. Egas Gomes de Sousa (1035 – Corunha, c. 1090). D. Afonso Henriques, 1109 ou 1111 (?), era filho do Conde Henrique de Borgonha e de D. Teresa, filha ilegítima do Rei D. Afonso VI de Leão e Castela. A sua infância decorreu num ambiente de disputas políticas e instabilidade territorial, em que os Condados Portucalense e Galego disputavam autonomia face a Leão. Desde cedo, D. Afonso demonstrou notável energia militar e estratégica, traços que o levariam a erguer-se contra a própria mãe na batalha de São Mamede (1128), abrindo o caminho para a construção de um reino independente. D. Afonso Henriques destaca-se no cerco de Badajoz em cerca de 1169, fazendo sobressair a ousadia do Rei, mas igualmente um sui generis simbolismo. Aqui D. Afonso já era reconhecido como Monarca, embora nem todos os territórios vizinhos o aceitassem. No cerco a Badajoz, associado a D. Fernando II de Leão, tentou aumentar a sua influência, mas tal objectivo resultou gorado. No corajoso enfrentamento, caiu do cavalo e ficou ferido com gravidade na perna, resultando prisioneiro. Foi aliás no cativeiro que ficou marcado em profundidade. Mesmo tendo sido libertado pouco depois através de negociações diplomáticas. Estava debilitado fisicamente e teve que usar muletas para o resto da vida. Porém, para lá do revés pessoal, constata-se uma alteração interior política. D. Afonso Henriques compreendeu que as vitórias não são só através da força militar, mas também por meio do jogo diplomático. E sobretudo através do reconhecimento externo de valores intemporais, mas bem terrenos, representados pela Santa Sé. Em 1179 é concedida a Bula Manifestis Probatum do Papa Alexandre III, o qual reconhecia Portugal como Reino independente e D. Afonso Henriques como Rei. Assim, da derrota de Badajoz, surgiu a vitória política. D. Afonso Henriques é uma força da natureza cristã contra as adversidades da vida. Guerreiro e estratega político, transformou ferro em ouro, derrotas em vitórias. A História prova que as Nações como Portugal não nascem só de vitórias nos “Elevadores da Glória” (RIP), mas também do repensar de estratégias e objectivos. D. Afonso Henriques perdeu capacidades físicas em Badajoz, mas das cinzas eclodiu através das dores para uma melhor governação, não deixando de sonhar na construção dos alicerces do Reino de Portugal que dura até hoje. A força do querer e fazer. A Herança Cultural Portuguesa é única no mundo, onde a independência surge como resultado de muitos sacrifícios, erros e do reaprender contínuo. D. Afonso Henriques é um visionário que alia a espada com a diplomacia, a inteligência e a força física, a humildade e o orgulho perante os incontroláveis acontecimentos históricos. Por meio de 9 Séculos, Portugal teve impérios, revoluções e mudanças fundas, mas D. Afonso Henriques é um Pai que se torna intemporal, quer através da vitória, quer por meio da derrota, afinal duas faces da mesma moeda. O caminho e sulco nacionais são como que uma montanha-russa onde persiste a autonomia e identidade, o carácter. Também é possível a um Povo ao longo de 900 anos - desde que D. Afonso Henriques se auto-armou Cavaleiro – transformar a adversidade em fundação, fazer da derrota a nossa força para enfrentar as fragilidades do futuro. Não se perca, pois, nunca o respeito pela História de Portugal, para que, sem ingenuidades, se possa confrontar o futuro com confiança.
900 anos de D. Afonso Henriques Armado Cavaleiro

Gonçalo S. de Mello Bandeira
5 setembro 2025