É comum dizer-se que os amores de verão são intensos, mas efémeros, que duram apenas o tempo que duram as férias ou um pouco mais, mas que raramente se perpetuam. O romance apaga-se com a distância, o início das aulas ou a vida de trabalho. A realidade vai adiando um telefonema, impedindo uma deslocação ou fazendo esquecer a paixão que o tempo livre, sem compromissos ou a disponibilidade para novos contactos e relacionamentos que as férias sempre favorecem haviam fomentado. Mas, há excepções em que nem o tempo nem a distância conseguem esfriar as promessas do telefonema ou de um novo encontro.
Sem serem tórridos, os encontros de amigos nos períodos de férias também dão azo a conversas descontraídas que não foram possíveis em tempo de trabalho e a promessas de almoços, jantares ou encontros que se não concretizam depois. A vida não perdoa e nem sempre as coisas deixam de acontecer por culpa intencional de algum dos intervenientes. O filho que fica doente, o próprio que tem de adaptar-se a um novo emprego ou a um outro posto na empresa, são algumas das razões mais banais que impedem a concretização de um desejo perante um terceiro.
Os políticos não resistem a encontrar-se nas férias ou, pelo menos, no fim das mesmas, antes de voltarem à actividade normal, no partido, no governo ou na oposição. Vários partidos reúnem militantes e simpatizantes para celebrar e até fazem festa: a do Pontal e a do Avante são dois dos eventos que reúnem muitos milhares de pessoas que comungam de ideais ou militância política. São encontros anuais em que se produzem discursos que vão ter desenvolvimentos depois na intervenção partidária na rua e no Parlamento. Do lado da oposição critica-se o Governo enquanto do lado de quem está no poder se anunciam medidas e se fazem promessas. Não raro, tal como os amores de verão, muitas das promessas que se fazem nas festas partidárias e nas rentrées partidárias dos partidos de governo acabam por ser adiadas ou mesmo esquecidas. A realidade dum país também condiciona um Governo, embora, as mais das vezes, sejam os interesses partidários a elencar novas medidas e depois a condicionar o cumprimento de promessas.
Numa das festas do maior partido do Governo, a universidade de verão, o primeiro-ministro foi lá para a encerrar. Luís Montenegro aproveitou o discurso que era suposto fazer aos participantes para enviar vários recados e avisos aos partidos da oposição, essencialmente sobre o próximo Orçamento de Estado. E para esmiuçar um pouco mais sobre as promessas eleitorais relativas ao combate da actual crise habitacional. A propósito, prometeu 133 mil casas, sem ser claro se este número era ou não para acrescer aos 60 mil já previstos no Programa de Recuperação e Resiliência, e sem referir qual será o horizonte temporal para a construção das mesmas. Esta, como outras promessas de verão, não são para levar muito a sério. A realidade acaba por ser sempre mais exigente do que as promessas que são anunciadas sem a ponderação do trabalho que falta fazer. A simplificação sempre ajuda quem promete, mormente, se há um acto eleitoral nos tempos próximos. Mas, pode acontecer que, desta vez, o romance seja mesmo a sério e se cumpra o prometido (depois dos esclarecimentos em falta) e com a oportunidade necessária.
Se o amor for sincero, no próximo verão o romance há-de continuar a estar muito activo e, quem sabe, haja já resultados das juras feitas no período estival deste ano. Veremos então se as promessas sobreviveram às provas do tempo, da realidade e da coerência partidária ou se ficaram, simplesmente, por anúncios de verão.