Entre Ferreiros e Gualtar há uma distância de apenas seis quilómetros. Pelo caminho, encontramos milhares de postos de trabalho, áreas residenciais, um apeadeiro ferroviário, escolas, piscinas, o Complexo Desportivo da Rodovia e a Universidade do Minho. Numa zona da cidade marcadamente plana, tudo isto poderia e deveria estar ligado por uma ciclovia simples, direta, segura e útil. Mas, em vez disso, continuamos a entregar este trajeto quase em exclusivo ao automóvel.
Nesse eixo, só na zona entre Maximinos e Ferreiros, a presença de grandes empresas, que diariamente obrigam à deslocação de milhares de trabalhadores, faz desta freguesia uma das zonas mais ativas do concelho. Mais ainda quando, a dois passos dali, no Centro Empresarial de Braga, encontramos outro polo com dezenas de empresas e centenas de postos de trabalho. Trata-se, portanto, de uma zona da cidade com importância considerável em termos de mobilidade.
Em Gualtar, o cenário é igualmente intenso: inclui a Universidade do Minho, com cerca de 20 mil estudantes e dois mil trabalhadores, numa zona com milhares de residentes. Um eixo que liga emprego, habitação, ensino, saúde e comércio, e que não pode continuar a ser ignorado.
Atualmente, pedalar de Ferreiros a Gualtar é tarefa quase impossível. A infraestrutura ciclável é descontínua, insegura e pouco convidativa. O resultado é previsível: quem pode, vai de carro, mesmo em trajetos curtos, com custos para a carteira, para o erário público e, pela poluição atmosférica e sonora, para a saúde de todos. Os estudos mostram que grande parte das deslocações urbanas não ultrapassam os 8 quilómetros — exatamente a escala onde a bicicleta tende a ser mais eficiente que o automóvel. A ecovia junto ao rio Este, partilhada por peões e bicicletas, não é solução viável para quem precisa de fazer o seu dia-a-dia e cumprir com os horários da escola, da universidade ou do trabalho. O percurso pelo conjunto de ruas e avenidas que ligam à EN14 (mais comummente designadas como “Rodovia”) é bem mais curto, mais plano e poderia ser confortável e eficiente de bicicleta, se tivesse a infraestrutura adequada.
Uma ciclovia estruturante neste eixo traria ganhos claros. Os residentes e trabalhadores de Ferreiros e das outras freguesias ao longo do percurso chegariam de bicicleta ao centro ou a Gualtar em menos de 20 minutos, em vez dos atuais 35 ou 40. Os estudantes e os trabalhadores poderiam deslocar-se em segurança para os seus destinos. Cada bicicleta traduz-se em menos um carro na estrada, diminuindo a sobrecarga viária e aumentando a fluidez do trânsito.
O traçado é simples e linear, e praticamente plano. Avenidas como a Imaculada Conceição ou a João XXI oferecem espaço mais do que suficiente para implementar ciclovias segregadas com largura adequada. Em 2017, chegou a ser elaborado para o Município um projeto abrangente, que contemplava ciclovias ao longo de boa parte do percurso aqui descrito, mas nunca chegou a sair do papel…
Braga tem algumas ciclovias, mas parecem surgir como “ilhas”, em vez de se ligarem para criar o necessário efeito de rede. Está, pois, na hora de investir numa rede coerente, eficaz e útil. A ligação Ferreiros–Gualtar tem por isso potencial para se revelar, não meramente como mais uma ciclovia, mas sobretudo como um eixo estruturante que aproxima pessoas, trabalho, estudo e saúde.
A mudança é possível, o benefício será de todos.