Etimologia do apelido “Camões”). Luís Vaz de Camões terá nascido, não se sabe bem onde, nem quando (entre 1523 e 25). Estudos recentes (ISABEL RIO NOVO) associam-no a genealogias do Noroeste peninsular (e relacionam duvidosamente o seu apelido com o “ca(i)mão”, ave rara dos caniços e das lagoas do centro e sul do país). Outras tradições falam de Chaves e do Norte, incl. a leste de Miranda, onde há uma aldeia zamorana (a 5 kms. do Douro), de nome “Gamones”. Aqui, o étimo é um arbusto (há 3 espécies, do género “asphodelus”); em Espanha há aldeias de nome Gamonal, Gamonosa, Camús (esta, na Catalunha). Em Castelo Branco (a W de Salgº do Campo) existe uma pequena aldeia, em terra bem seca e tórrida, de nome Camões (o étimo deve ser a planta e não algum antigo morador com esse nome). Segundo o camonista Hermano Saraiva, o poeta poderia até ter sangue cristão-novo. Uma das minhas bisavós maternas, natural de Santarém (e forte em versos e adágios) lembrava esta tradição: “L. V. de Camões, sua mãe Dª Jacinta, natural de Espada Cinta, vendedora de melões”.
Estranha homenagem ao vate do imperialismo luso). Neste ano de 2025 (centenário de Camões?), os políticos do Regime lá resolveram escolher (bem traiçoeiramente…), Lagos para sede das celebrações. Já em 1996 havia sido em Lagos, mas então não houve celeuma. Desta vez, os 2 oradores de serviço, falharam o objectivo central: desde sempre, glorificar a nossa “raça” (em rigor, a nossa nação), Camões, Portugal e a nossa vasta emigração (as “comunidades”, a diáspora lusa). E falharam porque (sobretudo no caso da notável e muito galardoada escritora algarvia, Lídia Jorge), foi injustamente esquecido que embora Camões tenha sido sempre bastante desprezado em vida; apesar disso foi um dos maiores apóstolos e glorificadores da nossa expansão politico-comercial e religiosa, pelo Mundo que acabávamos de descobrir. O discurso de Lídia, pouco contrastou com o de Marcelo R. de Sousa; não na ideologia derrotista, “wokista”, auto-punitiva, e até degradante para a origem étnica basicamente europeia da nossa nação. Mas apenas na duração (30 min. contra menos de 10, do PR).
Insulto a Lagos). A escritora, de 79 anos muito bem conservados, outrora bonita como o são muitas algarvias, com o cabelo pintado de loiro como as turistas inglesas locais, aparece em Lagos apenas para salientar que Lagos foi ocasionalmente um pequeno porto “negreiro”? Que no ano de 1444, ali mesmo, o Infante D. Henrique (de cuja Ordem ela aceitou ser feita comendadora, em 1995, por Jorge Sampaio), a cavalo, ali adquiriu 46 escravos? Esquecendo que pelos séculos fora, o tráfico negreiro era quase todo feito pelos “cristãos-novos”, i.e., judeus (cf. as obras do JOSÉ GONÇALVES SALVADOR e o recente livro de FRANCISCO BETTENCOURT, “Estranhos na sua própria terra”)?
Lagos, D. Sebastião, o “Remechido”… e Beethoven). Lídia Jorge não referiu que Lagos (o clube local é o “Esperança de Lagos”…) foi o único porto português em que fez escala o exército do jovem rei D. Sebastião. Antes de partir para Cádiz e depois atacar Marrocos naquela investida tão mal programada (que resultou no completo desaire de Alcácer-Quibir, 1580). Lídia Jorge também não referiu que “Remechido”, o grande guerrilheiro miguelista J. J. de Souza Reis (fuzilado em Faro, aos 36 anos, em 1832) o “homem da serra algarvia”, ali nasceu mesmo ao lado, em Estômbar; e deu a vida para tentar vingar a descolonização do Brasil, digamos… E já agora, o nome do maior músico de sempre, pronuncia-se “bêt-hoven”; e não “bitôven”, como disse Lídia… Que curiosamente foi uma professora que, mal se formou foi ensinar para Moçambique (sua inspiração para a “Costa dos murmúrios”, p. ex.).
Cervantes, tal como Camões). Se Camões perdeu um olho em Marrocos a guerrear os mouros, também o grande Cervantes esteve preso e foi maltratado pelos mesmos mouros, em Argel (e ficou deficiente num braço, em batalha); sendo mais tarde, resgatado. Que diriam eles, ao ouvir a defesa que, quer Lídia quer o actual PR, fazem da miscigenação actual dos europeus com os mesmos mouros, hindustânicos e negros subsaharianos, os quais hoje, objectivamente colonizam a Europa Ocidental?
Que “ninguém tem sangue puro”). E daí ? A velha Inquisição só considerava “judeu” aquele que tivesse mais de 1/16 avos e o quisesse ser. Além disso os 10% de escravos do séc. XVII, nem todos se reproduziram. E estavam era quase todos na zona de Lisboa… A céltica Lídia Jorge e o filho pródigo do grande Baltazar Rebelo de Sousa tomam o partido que quiserem. Mas não temos de ir atrás. Sobretudo se queremos ser considerados “europeus”; se formos híbridos, logo haverá na Europa quem nos vai abandonar.
Só há “dever moral” de receber migrantes daqueles países que nos acolheram). Franceses, alemães, ingleses, suíços etc.. É um grande logro, dizer que tal dever se estende a povos distantes, hostis, aos quais nada devemos. É abusar da nossa comprovada ingenuidade…