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Jesus, promotor de «desemprego»?

Embora fazer previsões seja um exercício temerário, têm-se atropelado os vatícinios acerca dos efeitos da Inteligência Artificial no universo laboral.

Um relatório da Organização Internacional do Trabalho já antecipa que cerca de 273 milhões de empregos poderão estar em perigo, sobretudo na Europa, na Ásia Central e nas Américas.


 

Não falta até quem catalogue as profissões que correrão maior risco: caixas de banco e de supermercados, motoristas, agentes de viagem, contabilistas, correios, reparadores de equipamentos, jornalistas, tradutores, funcionários de hotel e restauração, etc.

De quem ainda ninguém se lembrou foi de Jesus como um potencial – e decidido – fomentador de «desemprego».


 

Se o Seu Mandamento – que Ele mesmo apelidou de Novo (cf. Jo 13, 34; 15, 12) – fosse devidamente acatado, a indústria do armamento entraria em colapso e os ofícios ligados ao mundo judicial teriam dificuldade em sobreviver.

É que, se tal Mandamento estivesse planetariamente implantado, nenhuma lei seria necessária. Nenhum armamento seria manuseado. E como não haveria desavenças, não precisaríamos de recorrer a quem as dirimisse.


 

O problema é que teimamos em abastardar o formoso «Amai-vos uns aos outros» num abominável «Armai-vos uns contra os outros». 

Resultado. Da «ordo amoris» (ordem do amor) naufragamos numa interminável «inordinatio belli» (desordem da guerra).


 

Nem a multiplicidade de leis fomenta a sua aplicação. Pelo contrário, parece que, quanto mais leis, tanto maior é a sua respetiva transgressão. 

A produção legislativa aumenta e o fluxo de trabalho forense não cessa de crescer.


 

Se o Mandamento Novo não fosse continuamente violado, as armas ficariam silenciadas e os agentes judiciários nada teriam para fazer.

De facto, quem ama, não arma nem se arma. Daí que o Papa Leão XIV tenha recordado que a paz de Cristo é «desarmante e desarmada».


 

Em pouco tempo, não se tem cansado de advertir para o imperativo de um desarmamento total, a começar pelo desarmamento do coração e das palavras: «Que se desarmem as palavras para ajudar a desarmar o mundo».

Só uma «comunicação desarmada nos permitirá partilhar uma visão diferente do mundo e agir de forma consistente com a nossa dignidade humana».


 

Este é um caminho que exige «muita paciência e escuta recíproca». Nós temos armas nas mãos porque temos armas nas palavras e no coração.

E desarmar as palavras e o coração implica muito tempo, muita perseverança, muita empatia, muita comunhão.


 

Falta perceber que «a comunhão se constrói primeiramente de joelhos, na oração e num compromisso contínuo de conversão». 

É que «só com esta atitude cada um pode ouvir dentro de si a voz do Espírito que clama «Abba! Pai!» (Gal 4, 6) e, consequentemente, ouvir e compreender os outros como irmãos».


 

Ficariam sem emprego os senhores das armas e os litigantes das leis. Mas ficaríamos todos mobilizados para cuidar dos sofredores fazendo do mundo um lugar de beleza e fraternidade.

É hora de «desarmar» a humanidade e de «(re)amar» todos os seus membros!

João António Pinheiro Teixeira

João António Pinheiro Teixeira

1 julho 2025