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A herança de Costa

Em tempos escrevi que o governo de Costa vivia numa bolha rosa que estava a conduzir à falência as funções essenciais do Estado. As últimas eleições conduziram a uma queda estrondosa do PS, e por arrasto da esquerda no seu todo. O Chega arrasou bastiões de esquerda e tem resultados assinaláveis pelo país, parecendo caminhar de sul para norte. No concelho de Braga de 901 votos em 2019, fixou-se em mais 24.204 eleitores. Podemos ver responsáveis vários, entre eles um líder que nunca se afirmou (agora crucificado pelos que antes de ser já o endeusavam qual D. Sebastião e o tinham como aquilo que nunca foi) e deixou que o PS continuasse a cometer os mesmos erros, também no lidar do fenómeno Chega. Foi Costa que começou a encher este balão, com políticas de deixa andar, sem uma resposta para as preocupações essenciais dos portugueses que viam a saúde amarrada ideologicamente a desmoronar-se, as forças policiais em queda de autoridade, o desmantelamento desgarrado e irrefletido do SEF deixando passar uma mensagem de facilitismo, falta de critério e descontrolo, a educação em pantanas, a habitação em modo de inacessibilidade e serviços públicos desligados dos cidadãos, sem produtividade, laxistas e enredados no complicómetro. Sim, não é o PSD em 11 meses o responsável por esta degradação sistémica e o povo, ao reforçar a sua votação naquele, assim o afirmou. Aquele balão do Chega foi ainda insuflado por um Costa acoplado às esquerdas, jornalistas e comentadores que desprezavam o PSD alegando estar condicionado pela agenda de Ventura, simultaneamente que acicatavam o partido deste julgando que, sustentando aquele, esvaziariam o espectro da direita. O feitiço virou-se contra o feiticeiro. Não perceberam que o fundo do crescimento do Chega não era a ideologia, era o divórcio de muitos com um governo anestesiado e indiferente, o escape do povo que estava a saturar com um PS que teve tudo para resolver em 8 anos e nada resolveu. Não perceberam o crescimento daquele partido em áreas de influência da esquerda como prenúncio do que se estava a passar. Continuaram a bater, cavalgando a onda daqueles muitos que, aquando da geringonça, alardeavam iludidos que a esquerda podia ser governo para sempre. Mas ainda agora, depois da hecatombe, vemos alguns políticos, jornalistas e comentadores mais preocupados com Ventura do que com as raízes que levaram a este resultado. Alguns mesmos socialistas continuam sentados numa sobranceria moral, indiferentes aos porquês da humilhação que sofreram e mantêm-se adeptos daquela ideia que qualquer proposta vinda daquele lado é para rejeitar atendendo à origem e não ao destino, seja boa ou má para os portugueses. E o PSD que se cuide se seguir no mesmo carril! Importa mais do que ignorar, dar resposta às pessoas e suas preocupações legítimas de quem optou por esta via. Não vale a pena insultar aqueles votantes do Chega, como se apenas de ignorantes se tratassem; vemos as redes sociais a pulularem a ideia de que são os analfabetos, os manipuláveis, os incultos, espantando mesmo que os media alimentem esta abordagem e, de forma subliminar, rapidamente propagandearam que foram aqueles que menos instrução têm que se dirigem para esta área política. É uma má saída, pois quando esses mesmos votavam nas esquerdas afirmavam ser o verdadeiro povo longe das elites, o verdadeiro pulsar do povo! Esse desrespeito contínuo é que incendeia e exponencia ainda maior crescimento de Ventura. Certamente, olhando para o mapa político de ontem e de hoje, os comunistas não viraram fascistas. Foi a esquerda que se acantonou e fugiu das reais necessidades dos seus eleitores. Continuar na mesma vaga permite à criatura matar os seus criadores, receber o alimento que precisa, ao invés de esvaziarmos a sua relevância ou ideia de alguma relevância. Depois não se chore sobre o leite derramado!

António Lima Martins

António Lima Martins

28 maio 2025