Se o último Concílio já começa a ser deploravelmente esquecido, como esperar que o primeiro Concílio seja – como merecia – devidamente valorizado?
E, no entanto, até reproduzimos com frequência o Credo que nele foi modelado. O qual, por sua vez, constitui o desenvolvimento de um Credo anterior, conhecido como Símbolo dos Apóstolos.
O Concílio mais recente terminou há 60 anos, em Roma. O Concílio mais antigo realizou-se há 1700 anos.
Começou a 20 de maio de 325 e finalizou s 25 de julho do mesmo ano em Niceia (atual Isnik), na Turquia.
A sua brevidade – durou pouco mais de dois meses – é inversamente proporcional à sua relevância.
Esta decorre não só do facto de ter sido o primeiro Concílio Ecuménico – o Vaticano II é o vigésimo primeiro –, mas também pela repercussão dos temas abordados e das questões dirimidas.
Basta pensar na elaboração do sobredito Credo, que ainda hoje recitamos nas Eucaristias dominicais. Complementado em Constantinopla (381), foi em Niceia que foi concebido e estruturado.
Desde logo, havia uma excruciante questão cristológica em discussão.
Afinal, Cristo foi «criado» ou «gerado» pelo Pai? Era apenas «semelhante» ao Pai ou «da mesma natureza» do Pai? Em síntese, será que Jesus era – ou não – divino?
Para Ario, que contava muitos sequazes, a divindade do Pai é maior que a do Filho. Na sua ótica, o Filho teve um começo, não dispondo portanto da eternidade nem da plena divindade do Pai.
O arianismo propugna que Jesus «ascendeu» à divindade somente por permissão do Pai.
Sendo a mais perfeita das criaturas, não deixava contudo de ser criatura.
Do lado oposto, Alexandre de Alexandria e o diácono Atanásio, entre outros, sustentavam que o Filho era tão divino como o Pai. Tinha, por conseguinte, a mesma natureza que Ele.
Caso contrário, como poderia ser verdadeiro Filho?
Depois de discussões muito acaloradas, prevaleceu este último posicionamento. Acresce que o argumento das Escrituras surgia como irrebatível.
É que, se Jesus não fosse «consubstancial» ao Pai, como poderia ter afirmado «Eu e o Pai somos um só» (Jo 10, 30)? E como é que João iria proclamar que «o Verbo era Deus» (Jo 1,1)?
Daí a enfática insistência nos atributos divinos do Filho que encarnou em Jesus: «Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro».
De resto, as fórmulas batismais sempre foram integralmente paritárias. Basta conferir o respetivo lastro bíblico para notar que nos tornamos cristãos «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» (Mt 28, 19).
Como percebeu notavelmente São Basílio, «acreditamos como batizamos e rezamos como acreditamos». Se, no Batismo, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são colocados em pé de igualdade, acreditamos que assim seja e rezamos porque assim é.
Efetivamente, assim é desde sempre. E, a partir de Niceia, assim o professamos para sempre!