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A Internacional

Na noite de 18 de maio, num direto da sede de campanha do BE, ouviu-se: “Bem unidos façamos / Nesta luta final / Duma Terra sem amos / A Internacional. Messias, Deus, chefes supremos / Nada esperemos de nenhum / Sejamos nós quem conquistemos / A Terra-Mãe livre e comum!”. Enquanto a 13 de maio, em Fátima, centenas de milhares de peregrinos louvavam Nossa Senhora, Mãe de Deus, poucas dezenas de apaniguados cantavam, com o punho fechado no ar, a internacional comunista, escrita há mais de 150 anos pelo revolucionário da Comuna de Paris Eugénio Pottier e musicado em 1888 por Pierre de Geyter, um operário anarquista. Não se imaginaria que em 2025 essa ainda pudesse ser a bandeira melódica de um partido na Europa, foi mesmo surreal ouvir esse antigo Hino da União Soviética, mas efetivamente foi esse ruído contínuo e cadenciado que soou.

Tal sucedeu após a notícia da conquista da sua única deputada, reduzindo expressivamente os mandatos que sempre teve. Apesar disso, cantou-se vitoriosamente., aparentemente claro, porque não passou de toque de finados, o anúncio da morte do comunismo, o enterro do marxismo-leninismo em Portugal. Finalmente, como em outros países ocidentais, no nosso país caducou o Manifesto do Partido Comunista que Marx e Engels engendraram em 1848. 

A Esquerda e a sua extrema, com exceção do Livre, que se veste com capa de modernidade, não percebeu o rumo que leva o Mundo. Não é o fim das ideologias, simplesmente o progresso económico e o acesso dos cidadãos ao conhecimento, fizeram perceber que o bem-estar se constrói pelo lado da criação da riqueza, caminho que só é possível percorrer através da valorização da iniciativa privada, em liberdade de concorrência e cumprimento da lei com a regulamentação e fiscalização de um Estado que colabora e incentiva e que só sanciona os infratores, garantindo um SNS para todos. A esquerda comunista ou socialista marxista apenas gerou miséria por onde governou, num sistema de monopólio do Estado antidemocrático que gerou oligarquias e extremas desigualdades.

Também é à luz deste enquadramento que se entende a “débacle” do partido socialista. A escolha de um líder tão à esquerda, próximo do BE, ditou o insucesso. O povo quer lideranças fortes, pessoas em quem possa confiar a sua governação, em quem acredite que será capaz de trazer paz e liberdade, mas também segurança e um “viver melhor”. O Estado endividado para comer bem durante dias e anos a passar fome, não convence ninguém.

E também por se manter vinculado a ideologias e soluções programáticas que não trazem riqueza ao país, é que a esquerda deu um forte contributo para o crescimento da extrema-direita, cá como lá fora. Note-se que o crescimento do Chega deu-se não à custa da AD, mas sim do PS, que perdeu 20 deputados, tantos como aquele partido e a Aliança cresceram juntos. Desamparados pelo caduco discurso da esquerda, incapaz de responder aos desafios atuais da habitação, da insegurança e da emigração, muitos portugueses voltaram-se para a extrema-direita, cuja mensagem populista alcança as preocupações que atingem o povo.

Mas no passado domingo não foi só a esquerda que perdeu. Melhor que isso, ganhou a social democracia, que o PSD (AD) criou de base popular, enraizada no que o país tem de melhor, o modelo democrático mais adequado de governação, que combina o valor da iniciativa privada com as preocupações sociais, para gerar melhor qualidade de vida, gerador de um autêntico Estado de direito e social. E ganhou Montenegro, a sua personalidade e a sua governação. O povo não se deixa enganar e percebeu que o assunto da Spinunviva, depois de passar a espuma das ondas, não passava de um pretexto infundado de atacar a pessoa, por puro tacticismo político e de ânsia de poder, na impossibilidade de contestar a boa governação.

Pedro Nuno Santos demitiu-se, não tinha alternativa face à hecatombe dos resultados eleitorais. No discurso mostrou azedume e aconselhou o PS a não dar apoio ao governo da AD, empurrando-o para o Chega. Que grande diferença, infelizmente, para os seus congéneres europeus, como o SPD na Alemanha. Felizmente que emergiu da derrota José Luis Carneiro, um democrata que já anunciou a candidatura e se declarou disponível para contribuir para a estabilidade da governação na legislatura, que será exigente nas circunstâncias em que se encontra o Mundo e precisará de consensos num diálogo sério e credível.

Carlos Vilas Boas

Carlos Vilas Boas

22 maio 2025