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A importância do acolhimento nas escolas em situações de perda

Muitas vezes, falamos de luto quando há uma perda física, como a morte de um ente querido. No entanto, há formas de luto que são igualmente profundas, mas que passam despercebidas. A separação dos pais, a mudança de escola, de cidade ou de país, entre outras – tipos de luto que não envolvem morte, mas que afetam profundamente o mundo emocional de uma criança ou jovem.

Na infância e na adolescência, o luto pode manifestar-se de várias formas. As crianças podem não ter as palavras para descrever o que sentem, sendo os sinais, maioritariamente, comportamentais: falta de concentração, alterações nos hábitos alimentares ou de sono, agressividade ou apatia. Estes comportamentos podem ser facilmente interpretados como “crises de adolescência”, mas, muitas vezes, são uma manifestação de dor emocional.

E o que acontece nas escolas quando estes sinais não são compreendidos? A criança ou o jovem sente-se invisível. Sente que o seu sofrimento não é reconhecido nem validado, e que a vida continua como se nada tivesse acontecido.

É importante perceber que as escolas não são apenas espaços onde se transmitem conhecimentos académicos, mas também devem ser lugares que promovem o desenvolvimento emocional, onde as crianças podem aprender a lidar com as suas emoções e desafios de vida. No entanto, para que isso aconteça, é necessário que os professores e funcionários estejam atentos, não apenas ao desempenho académico dos alunos, mas também ao seu bem-estar emocional.

No entanto, a dor do luto não é facilmente detetada. Ao contrário de uma doença física visível, o sofrimento emocional de uma criança pode ser escondido por trás de um sorriso forçado ou de um comportamento aparentemente “normal”. Os professores, atarefados com o conteúdo das aulas, podem não perceber que a criança está a passar por um momento difícil. Mas, não se trata apenas de falar sobre o luto, mas de criar um espaço seguro onde o aluno se sinta confortável para expressar o que está a viver e onde se sinta acolhido, mesmo sem palavras.

Para que as escolas possam cumprir este papel, é necessário um esforço conjunto. Primeiramente, a formação dos educadores é fundamental. Muitos professores não têm a formação adequada para lidar com situações de luto. Além disso, o sistema educativo, na maioria das vezes, não inclui estratégias para apoiar os alunos que estão a atravessar uma perda significativa. Sensibilizar os educadores para a importância da escuta ativa é um passo essencial para acompanharem a jornada emocional dos seus alunos.

Mas não é só a relação entre professores e alunos que deve ser considerada. A empatia entre pares é essencial para que a dor de um colega não seja ignorada ou estigmatizada. A educação para a empatia, a compreensão e o respeito pelas diferenças deve ser parte integrante da formação dos alunos, para que possam reconhecer o sofrimento dos outros, mesmo quando ele não é visível.

Quando uma criança ou jovem enfrenta uma perda, o impacto não fica à porta de casa. Entra com ela na sala de aula, nas suas interações, no seu foco, na sua energia. Se for acolhido, este sofrimento pode ser transformado e a dor pode ser processada de uma forma saudável. Mas, se este for ignorado, pode levar a problemas emocionais sérios.

Criar escolas mais humanas, onde a dor possa ser expressa e tratada de forma adequada, é um investimento não só no futuro emocional dos alunos, mas na construção de uma sociedade mais empática e consciente.


 

Numa escola onde o luto é acolhido, cresce também a vida.

Clarisse Queirós

Clarisse Queirós

17 maio 2025