Teremos verdadeira consciência de que onde está o pobre, aí está Jesus? Na sua primeira exortação apostólica («Dilexi te»), o Papa Leão XIV alerta para esta excruciante conexão.
«O afeto pelo Senhor une-se ao afeto pelos pobres». Em Mateus, o próprio Jesus testifica tal vinculação: «Pobres sempre os tereis convosco» (Mt 26, 11); «Eu estarei sempre convosco» (Mt 28, 20).
Efetivamente, «no rosto ferido dos pobres, encontramos o próprio sofrimento de Cristo».
Aliás, toda a Sagrada Escritura mostra-nos como Deus está preocupado, desde sempre, «com a condição humana e, portanto, com a sua pobreza».
Deus é apresentado «como amigo e libertador dos pobres, Aquele que escuta o grito do pobre e intervém para o libertar».
Não espanta, por isso, que Jesus entre no mundo como o «Messias pobre» e também como o «Messias dos pobres e para os pobres».
A Igreja «reconhece nos pobres e nos que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades, e intenta servir neles a Cristo». Há, portanto, «um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres».
De tudo isto decorre que a compaixão cristã manifesta-se «de modo particular no cuidado para com os doentes e os sofredores».
Até a vida monástica foi um amplíssimo testemunho de solidariedade. Para os monges, «a hospitalidade e o cuidado com os necessitados eram parte integrante da espiritualidade».
O monaquismo mais estrito não via qualquer «contradição entre a vida de oração e recolhimento e a ação em favor dos pobres».
Os mestres espirituais tinham bem presente que, «para estar perto de Deus, é preciso estar perto dos pobres».
O amor concreto desponta assim como «critério de santidade. Orar e cuidar, contemplar e curar, escrever e acolher, tudo é expressão do mesmo amor a Cristo».
Torna-se igualmente claro que, além da conexão entre o amor a Cristo e o amor pelos pobres, impõe-se uma importante conexão entre «Cristo pobre» e uma «Igreja pobre».
Sendo a Igreja o novo Corpo de Cristo, para ser credível, ela tem de procurar ser o que Cristo foi: pobre e para os pobres.
Só deste modo a Igreja «sentirá como sua “carne” a vida dos pobres, pelo que o amor pelos pobres é a garantia de uma Igreja fiel ao coração de Deus».
Esta questão «remete-nos à essência da nossa fé». Os pobres «ocupam um lugar central na Igreja porque deriva da nossa fé em Cristo, que Se fez pobre e sempre Se aproximou dos pobres».
E nunca olvidemos que o cuidado dos pobres envolve também o cuidado espiritual.
Leão XIV recorda que «a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual».
Não negligenciemos tal cuidado. Nem nos furtemos a sermos cuidados pelos pobres.
A sua modéstia tem muito a ensinar-nos!