Há dias, ao estar a desenvolver uma tarefa que antes me demoraria vários dias e que conclui em apenas alguns minutos, dei por mim a pensar: Afinal somos mesmo todos necessários! Porquê? Porque depois precisei de um ou dois dias para fazer correções, melhorias e adaptações, que alguém sem as competências necessárias não conseguia fazer! Mais uma vez, como tenho vindo a defender - somos todos necessários e a IA veio-nos promover e potenciar, não substituir! Alias, penso até que esta narrativa de substituição tem os dias contados. Mas, para isso, temos de ajudar “a virar o disco”! Sim, há trabalho para todos, mas é fundamental explorar, desenvolver e implementar estratégias e soluções inclusivas que adaptem funções, empregos e criem novas narrativas. Narrativas que aliem o potenciar da IA com a humanidade.
Ora neste mês, as Nações Unidas divulgaram o relatório "2025 Human Development - A matter of choice: People and possibilities in the age of AI", acerca da evolução e desenvolvimento da Humanidade. Um relatório muito alinhado com o tenho vindo a defender. É tão relevante que não podia deixar de o referir aqui e de partilhar as mensagens chave.
Em primeiro lugar a IA não é um destino, é uma escolha! E não é a IA que determina o futuro, mas sim as nossas escolhas de como a concebemos, desenvolvemos e usamos! Mais uma vez a constatação deste caminho, que não podia estar mais de acordo.
Lamentavelmente, apesar de tudo, o desenvolvimento humano está a estagnar e as desigualdades a crescer, especialmente após a pandemia e entre os países mais ricos e mais pobres. Se a IA não for usada para promover a inclusão, a disparidade entre ambos vai aumentar e vamos aumentar a desigualdade, a pobreza e atrasar ainda mais o progresso humano. Por isso, não basta inovar tecnologicamente. A solução está em como usamos essa inovação e nas escolhas que fazemos. Pelo que o caminho tem de passar obrigatoriamente por uma economia de complementaridade, ampliando as nossas capacidades, e criando produtos e serviços “Sociais por defeito”, isto é, considerando de raiz o seu uso em complementaridade e não em competição com humanos.
O relatório propõe três frentes prioritárias: 1) Construir esta economia de complementaridade; 2) Impulsionar inovação com propósito e impacto social, sob métricas que meçam isso e não apenas rentabilidade; 3) Investir nas capacidades humanas, que nos tornam únicos e potenciá-las, pois é aqui que agregamos valor em competências críticas, criativas e relacionais, sobretudo na educação e da saúde.
Na mesma linha, a inclusão contra o acesso desigual à tecnologia também é bastante relevante, pois continua a ser um grande entrave ao desenvolvimento equitativo, nomeadamente nos países mais pobres.
Por fim, o relatório reforça que a IA é um espelho das nossas escolhas sociais, culturais e políticas. A forma como a IA influencia (ou distorce) o nosso bem-estar, as relações sociais e a autodeterminação depende das narrativas que adotamos e da coragem que tivermos para agir com propósito.
Não tenho dúvidas que temos muito por debater e concretizar nestas linhas de pensamento, mas com determinação lá iremos!
Relatório disponível em: https://report.hdr.undp.org/
