twitter

Alegria, surpresa e curiosidade

Confesso que senti uma enorme alegria, quando, pouco depois das 17h da passada quinta-feira, saiu fumo branco da chaminé instalada no telhado da Capela Sistina. Como estava em trânsito, foi pela rádio que, pouco mais de uma hora depois, ouvi o Cardeal Protodiácono, Dominique Mamberti, proferir na Varanda da Catedral de S. Pedro: Anuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam. Quando afirmou tratar-se de Robert Francis Prevost e acrescentou ter ele escolhido o nome de Leão XIV, não deixei de sentir, a par da alegria, alguma surpresa e, sobretudo, muita curiosidade. Por isso, me assaltaram as normais perguntas: Quem é? Por que motivo escolheu esse nome?

Se Robert Francis Prevost não me era um nome familiar, Leão XIV trouxe-me à mente o longo e já longínquo pontificado de Leão XIII, que conduziu a Igreja entre 20 de fevereiro de 1878 e 20 de julho de 19031. Sabia que tinha publicado muitas encíclicas2, mas apenas me recordei da Rerum Novarum e da Providentissimus Deus.

A pesquisa disse-me que a primeira foi publicada em 15 de maio de 1891 e que, num tempo de afirmação do socialismo marxista e do liberalismo económico sem restrições, defendia os direitos dos trabalhadores, o direito à propriedade privada, o papel social do Estado, a função moral e educativa da Igreja e a harmonia entre as classes. Também me disse que a Providentissimus Deus foi publicada em 18 de novembro de 1893 e lembrou-me aquilo que eu ensino aos meus alunos: teve uma grande influência no progresso da exegese católica, defendeu a inspiração divina da Bíblia, orientou os estudiosos católicos na interpretação correta das Escrituras, enfatizou a importância do Magistério da Igreja na interpretação da Bíblia e reagiu a críticas racionalistas e a interpretações não católicas, muito em voga no século XIX.

Entretanto, dei comigo a pensar que também o colaborador mais próximo de Francisco de Assis era Frei Leão. E interroguei-me se não teria sido também por isso que Robert Prevost escolheu para si este nome, sublinhando a proximidade com o Papa Francisco e a continuidade em relação ao seu magistério. Por um motivo ou por outro, ou mesmo pelos dois, só o próprio Leão XIV o poderá esclarecer.

A pesquisa continuou e foi assim que descobri ter o Cardeal Robert Francis Prevost nascido em Chicago (Estados Unidos da América), a 14 de setembro de 1955. Ordenado sacerdote no dia 19 de junho de 1982, desenvolveu a sua missão no Perú e os seus estudos em Roma, onde se doutorou em Direito Canónico.

Entre 2001 e 2013, exerceu dois mandatos consecutivos de seis anos cada, como superior geral da Ordem de Santo Agostinho (OSA). Em 12 de dezembro de 2014, foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Chiclayo (Perú) e posteriormente, em 2015, tornou-se seu bispo.

Por último, o Papa Francisco nomeou-o Prefeito do Dicastério para os Bispos, em 30 de janeiro de 2023, cargo que assumiu em 12 de abril de 2023. Nomeou-o também Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Nesse mesmo ano, no Consistório de 30 de setembro, fez dele Cardeal.

Ainda é cedo para percebermos o rumo do seu pontificado, mas o primeiro discurso e a homilia na missa que encerrou o Conclave assumem-se como bons indicadores. Muito me agradou que ele tenha destacado a importância da paz, dom de Deus, descrevendo-a como “desarmada e desarmante, humilde e perseverante”. Num mundo fragmentado e beligerante, não podia haver melhor forma de falar da paz.

Além disso, destacou a necessidade de construir pontes por meio do diálogo e do encontro, promovendo uma Igreja sinodal, missionária e próxima dos que sofrem. É isso que dele se espera como Pontífice: que faça pontes entre as diferentes sensibilidades e expressões da Igreja para que se mantenha unida, na pluralidade e na diversidade. O seu lema parece apontar nesse sentido: “Naquele que é Um, nós somos Um”. Diz quem o conhece bem que é um homem de diálogo e de aproximações, o que potencia a unidade.

Na missa de encerramento do Conclave, Leão XIV apelou a uma fé autêntica e ao combate ao ateísmo prático em que embarcam os próprios cristãos, num mundo marcado pela desvalorização da fé e pela valorização excessiva dos bens materiais. Realçou a importância da evangelização e apelou ao compromisso missionário, numa Igreja sinodal, que caminha unida, promovendo a escuta do Espírito e participação de todos os fiéis. Acrescentou a isso a necessidade de a Igreja estar próxima dos que sofrem, promovendo a paz e a caridade.

Os primeiros sinais são promissores. Resta-nos aguardar, confiantes na ação do Espírito, sabendo que Deus se serve de mediações humanas fortes e não abandona a Igreja. Pelo contrário, impele-a constantemente a estar ao serviço de Deus e da humanidade. Estou em crer que Leão XIV dará a este objetivo um notável contributo.


 

1Leão XIII ocupou a Cadeira de Pedro a seguir a Pio IX, o Papa que definiu o dogma da Imaculada Conceição, mediante a bula Ineffabilis Deus, publicada em 8 de dezembro de 1854. Seguiu-se-lhe Pio X, o Papa da Eucaristia.

2O Papa Leão XIII publicou 86 encíclicas sobre os assuntos mais diversos da vida cristã e eclesial.

Pe. João Alberto Sousa Correia

Pe. João Alberto Sousa Correia

12 maio 2025