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OS DIAS DA SEMANA O “exterminador implacável” contra as crianças da Palestina

 

 


 


 

É possível, se se quiser, encontrar justificações para as guerras. Pode-se, querendo, apontar uma causa mais ou menos admissível. Ou uma causa anterior. Ou outra causa ainda mais remota. Ou por aí fora. O que, todavia, violenta sempre – sempre – a razão é haver guerras que não poupem os inocentes e os mais inocentes dos inocentes: as crianças. Pior ainda – e é desoladora a circunstância de poder haver pior – é que as crianças, e todos os que são igualmente vulneráveis, não sejam o que se diz ser, algo cinicamente, um “dano colateral”, mas que sejam elas próprias um alvo de guerra.

O Direito Internacional Humanitário, esse conjunto de normas que pretende limitar os efeitos das guerras, mostra-se incapaz de proteger pessoas inofensivas e de impor limites aos meios e métodos de guerra. No meio da escuridão que se produz, destrói-se a possibilidade de que alguém faça surgir uma pequena luz de humanidade.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acompanhado pelo seu governo de religiosos fanáticos e nacionalistas racistas, é hoje a figura paroxística de um “exterminador implacável”. A sua condução da guerra apresenta-se determinada em eliminar sem remorsos as crianças da Palestina, as suas mães, os seus avós, toda a família; todas as famílias.

Um conjunto de 55 organizações humanitárias que trabalham em Israel e nos territórios palestinianos ocupados denunciaram esta terça-feira, dia 6, os mais recentes obstáculos que o governo israelita colocou para dificultar ainda mais ou, de facto, impedir a tarefa de cuidar de esfomeados, sedentos e feridos.

Durante mais de um ano e meio de guerra, as organizações humanitárias continuaram a operar em Gaza e na Cisjordânia “apesar das restrições sem precedentes” das autoridades israelitas, sendo “rotineiramente alvos de assédio, detenção e ataques directos” que assassinaram 400 trabalhadores humanitários.

A acção humanitária serviu milhões de pessoas, durante o ano passado, oferecendo-lhes serviços essenciais: “de comida e água a clínicas móveis, assistência jurídica e educação”. As restrições mais recentes “ameaçam encerrar esse trabalho”, denunciam as 55 organizações não-governamentais de vários sítios do mundo. Umas são muito conhecidas, outras menos. Eis algumas: Act Church of Sweden; American Friends Service Committee; CARE International; Children Not Numbers; Christian Aid; CIDSE – International family of Catholic social justice organisations; DanChurchAid; Diakonia; Diakonie Katastrophenhilfe; Humanity First UK; Humanity & Inclusion – Handicap International; International Media Support; Japan International Volunteer Center; Médecins du Monde; Médecins Sans Frontières; Middle East Children’s Alliance; Muslim Aid; Norwegian Church Aid; Oxfam: Pax Christi International; Polish Medical Mission Association; Save the Children International; Secours Islamique France; Terre des Hommes; War Child.

“Baseadas em critérios vagos, amplos, politizados e indeterminados”, as novas regras que limitam o trabalho das organizações humanitárias “parecem ter sido concebidas para exercer controlo sobre as operações independentes humanitárias, de desenvolvimento e de construção da paz, para silenciar os esforços de advocacia assentes na lei internacional humanitária e de direitos humanos, e para reforçar ainda mais o controlo de Israel e a anexação de facto dos Territórios Palestinianos Ocupados”.

As 55 organizações humanitárias consideram que os novos obstáculos adoptados pelas autoridades israelitas “marcam uma escalada séria nas restrições do espaço humanitário e cívico e ameaçam criar um precedente perigoso”. Esta enésima denúncia refere que o governo e as autoridades israelitas violam leis internacionais e ameaçam definitivamente a prossecução das operações humanitárias. Até agora, impunemente.


 

Eduardo Jorge Madureira Lopes

Eduardo Jorge Madureira Lopes

11 maio 2025