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Cidadania ativa

1. Recebi como prenda de Natal o livro de Fátima Campos Ferreira «Ramalho Eanes – palavra que conta». 

Com a autoridade que lhe é reconhecida Eanes salienta a importância da intervenção da sociedade civil. «Gostaria de fazer, aos Portugueses, um apelo à reflexão e um desafio ao empenho, responsável e solidário, de todos pela preservação e desenvolvimento da sociedade».

«A Sociedade Civil deve ser um espaço em que os cidadãos assumam o papel de protagonistas do acontecer público e, portanto, assumam responsabilidade decisiva pela integração, preservação e desenvolvimento do País, tudo fazendo para que, em conjunto com o poder político e a esfera económica, a sociedade usufrua de uma sustentável modernização económica e de um ambicioso e justo desenvolvimento social» (pag. 117 e 118).

 

2. Generalizou-se a ideia, errada, de que a responsabilidade pelos destinos do País está, só, nas mãos dos políticos e dos governantes.

Quem faz da política profissão tem uma responsabilidade acrescida, é evidente. Mas isso não dispensa o comum dos cidadãos da obrigação de andarem atentos e de, individualmente ou associados, exprimirem os seus anseios e preocupações, alertarem para a existência de problemas a que é necessário dar solução, aplaudirem decisões que se tomam, criticarem ou censurarem tudo o que for criticável ou censurável, colaborarem no bem comum.

Um lindo poema de Correia de Oliveira termina com estes versos: «Pátria não é mais que um jardim, onde nós todos temos um canteiro» («A Alma das Árvores», ed.1, pág.119). 

Portugal não é uma coutada de alguns habilidosos ou endinheirados. É de todos. Todos devem contribuir para o seu desenvolvimento integral e dele beneficiar.

 

3. Há um défice no exercício do direito/dever de cidadania. Para alguns limita-se à participação em dia de eleições e para muitos nem isso. 

Exercer o direito/dever de cidadania é agir com a consciência de quem se sabe corresponsável pelo progresso da cidade.

 

4. Porque é que muitas pessoas não participam?

Encontro várias razões. Umas, por comodismo. Outras, por desinteresse. Outras, por desânimo. Porque a experiência lhes diz não valer a pena. «Quem manda são eles – os homens da política, do governo e do dinheiro – e não adianta nada falar». Outras, ainda, por falta de informação ou por medo de represálias. 

Há políticos responsáveis pela passividade dos cidadãos. Não a estimulam e até a dificultam. 

Durante os anos em que, no atual Portugal Democrático, dirigi o «Diário do Minho» fiz sempre o possível por estar presente, desde o princípio ao fim, em todas as reuniões de Câmara abertas à Comunicação Social e nas sessões da Assembleia Municipal. E procurava fazer um relato exaustivo para que os cidadãos tivessem conhecimento do que lá se passava. 

Nas assembleias municipais havia um tempo destinado à intervenção dos cidadãos. Normalmente, o último ponto da ordem de trabalhos. Quase sempre alta noite e em ambiente de debandada.

 

5. A Comunicação Social deveria, a meu ver, estimular e facilitar o direito/dever de cidadania dando voz aos cidadãos e agindo como verdadeiro instrumento de diálogo. Mas não aconteceu já de nem o exercício do direito de resposta ter sido devidamente respeitado?

 

6. Há que retirar certas pessoas da comodidade do sofá e levá-las a intervir no que é do interesse da comunidade.  

Há que estimular a participação da generalidade dos cidadãos. Mostrar-lhes, com atos, que as suas observações não caem em saco roto.

Há que persuadir certos responsáveis de que também são falíveis, não sabem tudo de tudo, não devem levar a mal que censurem ou critiquem algumas das suas decisões. O bem comum só lucra com a consciente e responsável participação de todos. 

Que os homens do poder não tenham receio de ouvir o povo. Que acompanhem o viver das populações. Que se não limitem a ouvir e satisfazer quem os bajula mas saibam escutar quem os contesta e atender as suas justas reivindicações. 

Silva Araújo

Silva Araújo

8 maio 2025