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“Mulher, eis o teu Filho! “(...) “eis a tua Mãe!”

 


 

“Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, Maria (...) E Jesus, vendo a mãe perto do discípulo que amava, disse a sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois, disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E a partir daquele momento, o discípulo levou-a para sua casa”. (Jo. 19, 25-27)

Esta cena, que nos narra S. João Evangelista, lembra-nos a sanidade de Jesus no alto da cruz, apesar de todos os maus tratos recebidos, as humilhações e as dores tremendas que devia sentir, ao ter os seus pulsos e pés, pregados ao madeiro. Dentro em breve, iria morrer: “Tudo está consumado!” E, inclinando a cabeça, entregou o espírito”(Jo 19, 30)

O último acto de Jesus na cruz foi, simultaneamente, uma obra de misericórdia e um enaltecimento da condição humana. De facto, entrega a mãe ao cuidado do seu discípulo João. Não se esquece de que a sua morte deixaria Maria desamparada. Precisava de lhe dar algum provimento que garantisse que, na sua ausência humana definitiva, alguém ficasse com a incumbência de tratar Nossa Senhora - não de qualquer maneira, mas como um filho trata a sua mãe. O valor humano da filiação certamente que obriga João a um cuidado familiar com a mãe do Senhor, já que, a partir do momento em que Jesus lha entrega, sobe a sua responsabilidade de conviver com ela e o modo de a tratar. 

É realmente enaltecedor que a preocupação de Jesus pela sua mãe, num momento tão violento como foi a sua agonia na cruz do Calvário, O leve a proceder com todo o discernimento, respeito e amor, que um filho deve ter para com quem o trouxe ao mundo. Ele não se esquece do que deve, humanamente, a sua mãe. Gerou-O, educou-O e, sobretudo, amou-O dum modo tão positivo no lar de Nazaré, que merece que a sua maternidade se estenda a todo o ser humano, concedendo-a ao apóstolo João.. 

Quase chegado o momento da sua morte, Jesus não pensa nem nas humilhações e nos maus tratos sofridos pelos seus algozes, ou seja, não pensa em Si mesmo um momento, mas apenas no bem de todos os homens. Por isso, através do seu discípulo predileto, quer que todo o ser humano, a partir daquele momento, passe também a ser objeto do amor que Maria Santíssima Lhe proporcionou. Segui-Lo, já não é um caminho apenas externo, voluntário, de quem decide ser seu discípulo. O mesmo amor – amor de Mãe – que o Senhor recebeu de Maria desde que encarnou no seu seio, passa, pela pessoa de João, a ser comum a todos os homens, e, dum modo especial, a todos aqueles que O decidem tomar como Mestre e Senhor da sua vida.

Impressiona como Jesus, agonizante, é capaz de pensar no bem de todos nós. Decerto que sofre interiormente todos os ultrajes sofridos desde a sua condenação à morte, afrontam-no e esgotam-no fisicamente os maus tratos recebidos na flagelação e, depois, na crucifixão. Mas quer, antes de morrer, dando-nos a sua Mãe como nossa Mãe, através de João Evangelista, comprovar-nos que o seu amor supera todas os vexames, porque nos oferece, como manifestação do seu perdão, quem Ele mais amava e amou neste mundo, não de um modo etéreo ou vago, mas concreto e preciso: Ele ama Maria, Sua Mãe, como seu Filho. E passando também a ser nossa Mãe, é como filhos que a devemos amar e contar com o seu amor maternal para nos acompanhar em todas as circunstâncias da nossa vida, que, por vezes, apenas são suportáveis com o seu auxílio generoso e intimamente familiar.

Pe. Rui Rosas da Silva

Pe. Rui Rosas da Silva

20 abril 2025