A Confraria Gastronómica do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima atribuiu o Diploma de Honra e de Mérito à cozinheira Maria do Céu Matos Borges Pereira, pelo notável contributo para a preservação, dinamização e transmissão do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima. A cerimónia decorreu durante uma tertúlia gastronómica, que decorreu na passada terça-feira à noite, na Casa Rainha, em Ponte de Lima, contando com a presença do vice-presidente da Câmara Municipal, Paulo Sousa, da presidente da Junta de Freguesia da Correlhã, Paula Oliveira, de ilustres confrades e familiares da cozinheira. A presidente da Confraria Gastronómica, Cristina Mendes, explicou que esta organização tem homenageado prestigiadas cozinheiras limianas pelo seu trabalho em prol da preservação deste prato como «património gastronómico e herança cultural».
«Pretendemos desta forma exaltar as raízes familiares intimamente associadas à história do Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima, aplaudindo estas cozinheiras, que magistralmente e com uma indizível dádiva e ternura legam os segredos e os encantos do Arroz de Sarrabulho aos seus descendentes, que fazem jus à preservação da autenticidade e da singularidade deste ex-libris gastronómico na restauração em Ponte de Lima», declarou. Esta responsável destacou que «falar da cozinheira Maria do Céu Borges – Céu da Noémia, como é carinhosamente conhecida – é falar de uma vida que se cumpre no amor, na entrega e na dádiva».
A dirigente sublinhou «o coração» da homenageada, que se manifesta «na afetividade, no amor maior que tem pela família em toda a sua plenitude» e «no amor que coloca em tudo o que faz». Referindo-se ao percurso da cozinheira, lembrou que «deu os primeiros passos nesta tão nobre arte» com Maria do Carmo – homenageada pela Confraria em 2018 –, servindo em casamentos, batizados, comunhões e outras festas o melhor da gastronomia regional limiana, com especial destaque para o Arroz de Sarrabulho à Moda de Ponte de Lima, cuja exímia forma de confeção vai passando de geração em geração, tendo sempre como mestre Clara Penha e a sua sobrinha Belozinda Varela». Realçou a alma, dizendo que Maria do Céu «sempre colocou alma em tudo o que faz», e o espírito, através da «devoção pela Nossa Senhora da Boa Morte, com o seu sublime santuário e romaria na freguesia da Correlhã». Por seu turno, Maria do Céu contou que teve os primeiros ensinamentos culinários com a mãe, que era cozinheira, e por volta dos 14 anos já ia fazer casamentos com ela. Relatando o seu percurso, disse que trabalhava no campo, uma vida de que ainda hoje gosta, mas não dava dinheiro. Com a prima Fátima, aventurou-se a fazer bolinhos de bacalhau e rissóis.
Começou, então, a «habilitar-se» com a prestigiada cozinheira Maria do Carmo, que um dia a incentivou a fazer casamentos. Depois explorou o bar do santuário da Senhora da Boa Morte, até que teve a oportunidade de assumir um restaurante, dando início a um negócio cuja continuidade é hoje assegurada pela família. Sem segredos relativamente à forma de confecionar um bom arroz de sarrabulho, afirmou que «o segredo é o bom material, mas as mãos também têm de ser boas, têm de saber». Em seu entender, a qualidade do sangue e das carnes é determinante para o sabor do prato. Com orgulho, referiu que passou os ensinamentos para a nora Catarina, com quem trabalha há 20 anos.
Autarca aponta gastronomia como motora da economia
O vice-presidente da Câmara Municipal de Ponte de Lima associou-se à distinção, argumentando que «são as pessoas que fazem a diferença nos territórios». «Se hoje temos a gastronomia e os vinhos como dois pilares de desenvolvimento do turismo de Ponte de Lima, que é motor da economia local, é graças ao trabalho das nossas cozinheiras e produtores», afirmou Paulo Sousa. O vereador com os pelouros da economia e do turismo recordou que «o setor da restauração tem um impacto significativo na economia local», exortando os restaurantes a apostarem na qualidade, não caindo na tentação de «desvalorizar os pratos mais emblemáticos do concelho» de Ponte de Lima.