twitter

Hospital de Braga integra a leitura no processo de tratamento de doentes

Hospital de Braga integra a leitura no processo de tratamento de doentes
Fotografia DM

Publicado em 20 de novembro de 2024, às 09:37

Parceria com dstgroup permite instalar mini bibliotecas em todas as enfermarias.

Garantir que no tratamento hospitalar também há espaço para os sonhos que a leitura possibilita. É o grande objetivo do projeto que o Festival da Utopia iniciou ontem no Hospital de Braga e que vai permitir equipar todas as enfermarias com uma estante de livros. O lançamento do projeto teve a colaboração do escritor Gonçalo M. Tavares, que sugeriu a inclusão de momento de leitura em voz alta voz no processo do tratamento dos doentes.

O Festival Literário  Utopia entrou ontem no interior do Hospital de Braga para mostrar que mesmo nos momentos mais complicados da vida como os do tratamento hospitalar tem de haver espaço para o sonho. O mote para a ida do evento literário foi a inauguração do projeto “Ler no Hospital”, que passou a equipar o Hospital de Dia Médico e o Hospital de Dia Oncológico” com uma estante repleta de livros ao dispor dos doentes. A mini-biblioteca é fruto de uma parceria entre a Unidade Local de Saúde de Braga e o dstgroup, que é a entidade promotora do Festival da Utopia. Romances, contos e poesia passam a caminhar lado a lado com os tratamentos hospitalares, num processo de humanização da doença e de enriquecimento cultural do ambiente hospitalar.

Para o presidente do Conselho de Administração do dstgroup, José Teixeira, o projeto assume a literatura como «instrumental» e como parte integrante do processo terapêutico. «No hospital com terapia», disse José Teixeira, acrescentando que a leitura «ajuda a passar do fínito para o infinito, do físico para o metafísico». 

Com a convicção de que com o projto ontem lançado cresce «a esperança de que algo aconteça e que muda a vida das pessoas». o “rosto” do Festival Literário da Utopia deu nota que o propósito é ir mais longe. «Em vez de termos uma biblioteca nesta enfermaria, vamos ter bibliotecas em todas as enfermarias deste hospital», destacou. A proposta foi ontem mesmo dirigida ao Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde de Braga. José Teixeira não escondeu que é «com grande esperança» que vê a instalação de  mini-bibliotecas em todas as enfermarias dos Hospital de Braga. «Espero que quem visita um doente pegue num livro e leia em alta voz para toda a enfermaria», revelou, vincando que essa «espécie de liturgia é que nos aproxima do bem e aproxima-nos de uma certa calma». O responsável pelo dstgroup deixou também o desafio a que outros empresários «façam o mesmo» em outras cidades, para que «todos os hospitais» possam    oferecer aos seus doentes a possibilidade da leitura, que é também «uma arma contra a ignorância».

Projeto é uma janela aberta à esperança 

Na mesma linha do presidente do dstgroup foi também a diretora clínica do Hospital de Braga, que apontou o projeto “Ler no hospital” como «um abrir de janelas e um renovar da esperança». «Esta iniciativa tem a vantagem de promover uma humanização dos cuidados de saúde e proporcionar aos doentes momentos de relaxamento e de bem-estar», disse Paula Marques, destacando «o bem-estar psicológico que a leitura também proporciona ao doente». 

«O facto de termos aqui livros nas estantes, faz com que os doentes possam passar melhores momentos na altura em que estão aqui, em situação de fragilidade», referiu a médica, acrescentando «que os próprios familiares e acompanhantes podem fazer uma leitura não só para a pessoa que visitam, mas também para as pessoas que estão na enfermaria».

A criação do hábito de ler em voz alta em ambiente hospitalar foi também destacada pelo escritor Gonçalo M. Tavares.   «Os hospitais são espaços que assinalam que o ser humano tem fragilidades. Mas além do apoio médico, do apoio físico e psicológico, acho que são momentos importantes para a leitura entrar, não no sentido de curar, mas no sentido de acompanhar», disse o escritor,  que olha a literatura como uma forma dos escritores «falarem com as pessoas que estão internadas ou que estão a receber tratamento hospitalar». É que «a leitura, a literatura não é apenas para momentos de alegria, de felicidade, é também para nos acompanhar nesses momentos maiores de fragilidade».

No encontro direto que teve ontem com os doentes de duas enfermarias do Hospital de Braga, Gonçalo M. Tavares leu em voz alta vários contos da sua autoria e de outros escritores. Os doentes do Hospital de Dia Oncológico começaram por estranhar a experiência, mas deixaram-se envolver pela palavras que abriram a porta ao imaginário.