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TEMPOS DIFÍCEIS? A GRAÇA DE DEUS TUDO SUPERA, SE A ACEITARMOS

Estamos num tempo complexo, em que notei, como sacerdote, que algumas pessoas, crentes da religião cristã, mais propriamente, católica, se põem o problema duma questão: como é que Deus, sendo infinitamente bom, permite uma situação tão difícil de suportar como a actual. E referem-se às problemáticas de todo o tipo que são provocadas pela pandemia.

Já várias vezes tenho citado uma pequena frase da Epístola aos Hebreus, segundo a qual: “Aqui não temos morada permanente” (Heb. 13, 14). É bom recordá-la de novo, e não esquecer que a morada permanente que Deus nos promete – o Céu – é de completa felicidade. De algo que, como seres imperfeitos que somos, não temos capacidade para a imaginar ou definir em plenitude. Ficaríamos sempre aquém.

Lembrava, além disso, que a situação actual do ser humano não foi predisposta por Deus quando o criou. O chamado estado de justiça original em que vivia não conhecia a dor nem o sofrimento. Estaria, aqui, na terra, durante algum tempo e, num determinado momento, seria chamado por Deus para entrar no reino dos Céus, a fim de gozar da plenitude da já referida felicidade.

Certamente que o homem era, então, como agora, um ser livre. Foi criado à imagem e semelhança divina (Deus, ser omnipotente e omnisciente, é livre por essência), a fim de que regesse tudo aquilo que era colocado à sua disposição nesta terra, diz o Génesis (1, 26-27). Podia determinar-se a seguir as vias que Deus lhe indicava como boas, ou rejeitá-las. No entanto, se optasse por esta segunda hipótese, como o próprio Deus o avisou, conheceria a morte, ou seja, a sua limitação como criatura viria ao de cima. Por não ser senhor absoluto de si mesmo, a sua existência era um dom de quem lha ofereceu e não uma qualidade essencial do seu ser. Ou seja, se o homem existe foi porque Deus o criou, e não por sua capacidade natural.

A este respeito, alguém me sugeriu que, dadas as dificuldades que encontramos no dia a dia, lhe parecia que Deus, para ser totalmente justo, devia perguntar a cada um de nós, antes de nos conceder a vida, se queríamos de facto vir à existência ou não. Se assim procedesse, já a responsabilidade nos pertencia, se escolhêssemos nascer e enfrentar as circunstâncias que daí advinham. Esta ideia não tem em conta que Deus é perfeito no conhecimento e nas resoluções que toma. Nunca se engana nem engana a quem cria. Se decide dar-nos a vida, dá-nos todas as possibilidades de a gerirmos de acordo com o bem. Chama-nos à responsabilidade ao dar-nos a livre escolha, ou seja, a condição de ser livres e incita-nos, na nossa consciência, a optar pelo que é bom, tendo em conta todas as nossas possibilidades, as circunstância que nos rodeiam, o bem pessoal e o dos outros, enfim, tudo aquilo que determina que uma escolha que tomemos seja efectivamente virtuosa.

Não tenhamos suspeitas da infinita bondade de Deus. Só quer o bem e para aí nos encaminha. Nós, contudo, podemos recusar as suas sugestões. A isso chama-se pecado. Ou seja, escolher uma via que não corresponde ao que Deus nos pede e nos incita. Lembremo-nos que por esse motivo, que nos fechou as portas da felicidade do Céu, o próprio Deus, porque nos ama duma forma inexcedível, se humanizou, na Pessoa de Jesus Cristo. Ofereceu a sua vida em resgate de todos os pecados do homem. E, antes de ressuscitar ao terceiro dia, abriu as portas do Céu a todas as almas que, desde que o ser humano foi criado, aguardavam esse momento libertador para poderem ascender à felicidade para que o próprio Deus as tinha chamado. A partir desse momento salvífico, nunca mais se fecharam essas portas e todos nós podemos e devemos ascender até elas, através de um percurso em que, apesar das nossas fragilidades, encontram no perdão divino o seu remédio e na nossa penitência e no nosso arrependimento a atitude adequada.

Insiste-se: Deus que é absolutamente perfeito em Si e em tudo o que determina, apenas quer o nosso bem. E para ele nos induz. O que pode afastar o homem de Deus, insiste-se, é o pecado. Não outra realidade. Com a graça que Ele nos concede, não só podemos evitá-lo, como aspirar a ser cada vez mais fiéis aos seus desígnios. Não estamos sozinhos nem abandonados. Pelo contrário, a ajuda divina sempre estará ao lado da nossa consciência, a fim de nos incitar a sermos seus filhos generosos e obedientes, com perfeita liberdade de acção, a fim de merecermos que, depois da nossa vida terrena, possamos entrar no Reino dos Céus. E aí, sim, conhecermos a felicidade perfeita.


Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
DM

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24 janeiro 2021