Num tempo em que a selfemania virou paranóia nacional, qualquer turista, mesmo sem garrafão e farnel, que a queira exercitar com a patroa nos amores-perfeitos da Avenida da Liberdade (no troço que vai do Posto de Turismo à rua do Raio) fica pior que estragado; é que saldou-se por um incómodo fiasco a operação deste último inverno; e isto porque, tolhidos, decrépitos e enfezados, os amores-perfeitos não estão cumprindo a função para que foram destinados, transformando-se, assim, nuns ingratos amores-imperfeitos.
Ouvem-se por aí, à boca cheia, vozes, vozeiros e vozeirões que na lógica dos treinadores de bancada tentam justificar as razões de tamanho fracasso: uns dizem que é maldade da meteorologia, outros que é mal de inveja do reviralho e, até, há quem augure mãos criminosas a espalharem, a horas em que as bruxas se penteiam, pozinhos de perlimpimpim com funções de herbicida.
Tenho cá para mim que tudo não passa de uma questão de floricultura, quiçá agrícola, ou seja querer plantar o que no local é implantável, isto é, não respeitando as regras da boa jardinagem que dizem que, em terra de giroflés não se plantem rododendros e vice-versa (talvez fosse recomendável uma licenciatura em agricultura floral, mas não numa dessas organizações que, aos fins de semana, aceitem candidatos, como em tempos já aconteceu com alguns finórios).
Pois bem, como a operação em causa envolve sempre elevados custos em matéria-prima, material e mão de obra, seguramente umas dezenas de milhares de euros que, obviamente, saindo dos cofres da Câmara Municipal é, alfim, do bolso, já tão coçado, de todos nós que saem; e, lamentavelmente, sem resultados que se vejam, se aplaudam e se possam gozar.
Já venho, há tempos, a lamentar que não se arranje urna solução mais económica e durável – opinião corroborada por muitos bracarenses que se me dirigem; por exemplo, acabar com aqueles canteiros inestéticos e fazer outro arranjo arquitetónico e recorrendo a outras espécies florais que isto de, no verão cravos-xarope e, no inverno amores-perfeitos já foi chão que deu uvas e nem sempre de boa qualidade; ademais, penso que na Câmara Municipal há, com certeza, engenheiros/paisagísticos e ambientalistas capazes de dar a volta ao texto. Pois bem, uma nova operação de cosmética que para o local se venha a delinear é ideal para alegrar a vista, cansada que está de tanta monocromia e mal sucedida, e despertar as mentes para novas sensibilidades estéticas; e, sobretudo, num tempo em que até os burros mudam e que, pela nova lei de proteção aos animais de estimação e companhia, vão deixar de comer nas manjedoiras e irem aos restaurantes com os donos.
Depois, a grandeza e localização da zona merece um jardim que, não batendo o de Santa Bárbara, com ele possa rivalizar; e os bracarenses bem-intencionados e que sempre pensam pela sua própria cabeça só têm que festejar e agradecer a decisão, sobretudo quando questões de dinheiros públicos estão em jogo.
Senão vejamos: mesmo sem chamarmos nenhum Pitágoras, contas feitas, à pressa e sem máquina de calcular, o atual arranjo urbanístico consta de 18 canteiros cada um com dois mil pés de amores-perfeitos; ora, 18 canteiros multiplicados por dois mil amores-perfeitos dá 36 mil pés; ora, se cada pé custar 50 cêntimos, a soma total é de 18 mil euros que juntos à mão de obra, deslocações de pessoal e manutenção, podemos pensar, grosso modo, em 50 mil euros ou mais por cada safra; e isto, como diria o Francisquinho, areia é demais para a nossa camioneta de contribuintes.
Por isso, uma vez mais se apela à Câmara Municipal para que reveja esta situação; e, sobretudo, que ponha os olhos bem-postos no que este ano acontecendo está com os amores-perfeitos e tire as ilações que devem ser tiradas.
E, agora, já que estamos com a mão na massa que é como quem dia a bater em ferro quente, o jardim, pseudo-jardim aliás, do Largo João Penha (antigo Largo do Rechicho) não passa de um quintalejo de erva e mal tratada; por isso, uma vez mais se exige uma operação de cosmética floral à maneira que dignifique o Largo e preste ao emérito Vate a devida homenagem.
Também, já que falamos de arranjos urbanísticos, era bom que os técnicos da especialidade se dispusessem a falar com alguns comerciantes da parte nascente da Avenida Central que algumas ideias interessantes têm para pôr a zona num brinquinho; ora, a isto é que se chama falar claro e é a falar assim que a gente melhor se entende e pode finalmente dizer que:
É BOM VIVER EM BRAGA.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
Amores-perfeitos que viram imperfeitos

DM
21 março 2018