A série de demissões no governo atual, levantou em todos nós a suspeita de integridade moral e ética dos escolhidos para a governança. Nunca se viu, pelo menos nesta segunda república, tal avalancha. Os factos são os factos e contra isso não há discussão; mas há estupefação. António Costa dá a impressão de um náufrago que se agarra aos destroços para manter uma barca furada; pede auxílio ao Presidente da República, quase em súplica, para lhe valer neste naufrágio. O Presidente da República, o presidente da estabilidade, acaba por aprovar um inquérito, a que chamo inquérito 36, sobre a idoneidade dos candidatos. Por um lado, isto parece-me uma delegação de poderes do primeiro-ministro, em segundo lugar é uma confissão de inépcia; o mais alarmante disto tudo é a desconfiança expressa e implícita na honorabilidade dos escolhidos; os portugueses perante este espetáculo degradante, pensam que não há gente honrada para governar. E ainda falta Cravinho e ainda falta o ministro das finanças , Fernando Medina. E quantos mais faltarão? E para suster este descalabro, pretende-se agora fazer governantes sem manchas no seu passado e com garantias de honradez no futuro. São os honrados-novos como foram os cristão novos? Serão fingidores de novas doutrinas e novos credos? Para lá de quanto isto é trágico e débil, a pergunta que fica é esta: há quem possa ser governo? Não haverá um neto que tenha um negócio que crie incompatibilidade ao avô? Caímos do zelo ao excesso de zelo. Ainda há quem se sujeite a esta inquirição para ser governo? Em tempos idos, bastava a palavra e o aperto de mão para selar um acordo. Uns fios de barba de D. João de Castro bastaram para refazer a fortaleza de Diu. Hoje, pelos vistos a palavra é garantia furada; não basta dizer palavra de honra; é preciso assinar um compromisso escrito. Isto é assim porque a honradez política a par de outras, virou zero; por isso, estes senhores tem de passar pelo crivo vergonhoso de um inquérito iníquo, indigno e atentatório da integridade do sujeito. Em género de pressentimento fica no ar, a pairar como densa poeira negra, a ideia de que não há ninguém sério para nos governar. Então há que fazê-los a mascoto. C`est honteux, é vergonhoso, como dizem os franceses. Agora esperamos que, da fábrica de fazer honra, através do inquérito 36, saiam pessoas honradas. Ao que nós chegamos! Acorda honra, olha que se perde a democracia. Lembro que foram coisas como estas que fizeram acabar a primeira República! A eternamente desconfiança nos homens e na sua honra como governantes “é doença silenciosa”. Última refleção: Os Dez Mandamentos dados a Moisés no Sinai, chegaram para balizar a ética, a moral e o direito dos homens. Será que 36 perguntas chegam para balizar a ética, a moral e o direito dos putativos governantes?
Autor: Paulo Fafe