Infelizmente, continua a haver no nosso país um problema complexo no ensino público, que consiste essencialmente, ao começar o novo ano académico, na incapacidade de preenchimento de todas as horas de aulas com os respectivos professores. Já o ano-lectivo de 2025 começou no mês passado, mas o Ministério da Educação não pôde solucionar esta dificuldade, que se repete sempre nestes primeiros tempos da escolaridade pública. Dá ideia de que o ministério respectivo não tem capacidade para solucionar esta problemática, repetindo-se, ano após ano, o mesmo panorama dum modo sistemático e desagradável.
Recordo-me que há muitos anos o autor destas linhas, ao concorrer a um lugar de professor no ensino estatal, foi colocado em determinada escola, que se situava a poucos quilómetros da sua morada. Ao apresentar a sua nomeação, recebeu a resposta de que todos os lugares da sua especialidade se encontravam preenchidos, pelo que não podiam aceitar esta nomeação. Como é de calcular, fiquei chocado com o sistema e muito desagradado com as informações que recebi. Um dos membros da direcção da escola disse-me que lamentava a situação, pedindo-me o meu telefone – na altura, o de casa, porque eram desconhecidos os telemóveis – para me informar, eventualmente, de alguma solução para o meu problema. Agradeci a boa vontade e despedi-me, bastante desanimado.
Quando ia a sair do portão da escola, ouvi uns brados muito fortes, que saíam da porta de entrada principal. Ao princípio, não percebi que eram dirigidos para mim, mas reconheci o mesmo professor que ficara com o meu número telefónico. De facto, procurava-me e com a sua voz forte e aparentemente exaltada, fez com que eu voltasse atrás. Com cara muito feliz e alegre, dizia-me que, se eu quisesse, numa outra escola pública, situada numa cidade que distava daquela vila cerca de vinte quilómetros, tinham um lugar para mim, se eu quisesse aceitar. Agradeci-lhe e, como tinha ainda o telefone ligado, pude concretizar a minha ida ao novo estabelecimento de ensino, para me encontrar com o então “Senhor Reitor”.
Nesse mesmo dia, fui falar com ele e recebi um horário bastante exigente, mas que, salvo numa disciplina de alunos mais novos, correspondia ao tipo de matérias da minha licenciatura. E assim iniciei a minha carreira docente, no ensino público com alguns dias de atraso em relação ao início das aulas, que depois se prolongou durante cinco anos, nos quais me profissionalizei, fazendo o estágio respectivo. Felizmente, não tive de mudar de lugar ou de centro de ensino, pelo que a minha vida decorreu sempre, durante esse tempo, no mesmo local.
Devo agradecer muito o que esses anos me ensinaram, quer em matéria pedagógico-docente, quer no ambiente habitual de uma escola, no seu dia a dia, nas suas exigências, nos seus momentos felizes e nos que levantam dificuldades e problemáticas de surpresa nem sempre fáceis de solucionar. Foi tempo de aprendizagem e de reflexão sobre o ensino, que sempre compreende duas dimensões humanas que se encontram: professores e alunos. E destes, dum modo particular e relevante, as suas condições familiares. Recordo, por exemplo, o caso de um meu discípulo, adolescente, muito calmo, bem educado e aprazível que, em certo dia, teve um comportamento duríssimo e exorbitantemente grosseiro. Razão: o pai abandonou o lar e foi viver com uma sua companheira...
No final deste tempo, convidaram-me para iniciar, no ensino privado, um novo colégio na capital do país. Aceitei, mas tive de me adaptar a um esquema e tipo de comportamento muito diverso, que será objecto do meu próximo artigo.