Há uma rua em Braga que guarda mistério, pelo menos aos que a não buscam num qualquer GPS. Há muito deixou de ter sinalética ou o seu cartão de identidade, uma placa toponímica que a oficialize aos olhos de todos. Uma pedra mármore, um azulejo, uma chapa, nem um papel colado com fita-cola a dizer “Rua qualquer coisa…” existe. Sabem aquelas pessoas que todos conhecem, mas ninguém sabe o nome? É mais ou menos o que sucede! Quem ali chega, fica na dúvida: como se chama? Que rua é? Os que aí habitam sabem, é suposto. Mas o carteiro novo, a ambulância, um desconhecido, mesmo a seguir uma indicação da internet em que se depara com o singelo “chegou ao destino”, fica sem ter a certeza; o nome da rua esconde-se. Este é o semianonimato que vai padecendo a Rua António Cândido Pinto na agora União das freguesias de Nogueira, Fraião e Lamaçães. Sim, já foi reportada à respetiva Junta em fevereiro, que foi tão solícita a responder que estavam a trabalhar na sua reposição, quanto adormecida na sua efetivação, pois já lá vai quase meio ano e a rua mantém-se na escuridão para quem não a conhece. É como livro sem título: até pode ter belas páginas, mas o mundo passa sem saber como o chamar. A Junta de Freguesia, segundo manda a lei (artigos B-2/12.º e B-2/13.º do Código Regulamentar do Município de Braga), para não falar do bom senso, tem a obrigação de colocar a toponímia. Em tempos de universo digital, pode parecer detalhe, mera questão burocrática ou até, apenas, um adorno, mas não: é parte da organização territorial da cidade, da segurança pública e até da sua memória. É, ademais, uma obrigação legal e compromisso com os cidadãos de clareza e cuidado dos que, em nosso nome, governam o bem comum. Mais do que funcionalidade, a toponímia transporta também valor histórico e cultural: cada designação escolhida é uma marca de memória, um registo que se perpetua na paisagem urbana. A ausência de placa não é, portanto, apenas um vazio físico, é a quebra de um elo entre o território e a sua narrativa. Sem nome visível, a rua existe apenas para quem nela vive ou vive no mundo digital, permanecendo invisível para os demais. É que a placa não existe só para os moradores, até porque quem mora numa rua sabe, necessariamente, o seu nome. A placa existe para os outros. É até um gesto de hospitalidade urbana: “Está na rua certa. Seja bem-vindo”. Ou seja, esta rua, apesar de viva, do movimento diário de moradores, veículos e serviços, permanece oficialmente anónima. Talvez seja a rua que não queira ter nome em protesto por ver as suas áreas ajardinadas adjacentes serem deitadas ao desleixo por uma Junta que julga que a erva pode ser a relva que o promotor do empreendimento onde aquela via se insere, deixara cuidada e regada, e agora tem ficado à mercê dos desejos do clima e da mãe-natureza, sendo no verão mais feno ou pasto do que outra coisa, para não esquecer os silvados que podem grassar à vontadinha, ou apenas cortados (mas não expurgados) para logo crescerem, pondo em perigo, atenta a sua natureza espinhosa, a segurança de pessoas e animais. Enquanto a placa não chega e se acomodou a estar na Junta como “pendente”, a rua vive à sombra da informalidade, entregue ao improviso das indicações orais ou à dependência dos mapas digitais. Contudo, numa cidade com séculos de história e orgulho na sua memória, dar nome e visibilidade a cada rua é mais do que um dever legal: é um gesto de respeito por quem nela habita e por quem nela circula. Talvez a Junta socialista esteja a guardar suspense até pertinho das eleições para uma qualquer reinauguração da rua e umas fotos a condizer, ou a ter uma veia mais moderna de socialização que una os seus moradores e transeuntes a explicarem ao visitante: “vira ali, passa acolá, contorna a rotunda e estamos lá”. A placa há de chegar um dia, perdendo a rua o seu status de lugar escondido, talvez em mudando os protagonistas políticos para pessoas mais novas, dinâmicas, cuidadoras e próximas dos seus fregueses!
Placa para que te quero
António Lima Martins
9 setembro 2025