Estamos em pleno mês de Agosto. Neste ano, duma forma especial, os seus dias falam bem do que sempre os enaltecemos, com alguma saudade, nos dias de inverno, que são frios, chuvosos, agressivos. Recordo, a este respeito, que numa tarde muito molhada de Janeiro, numa reunião familiar de aniversário, alguém lembrou, com certa tristeza, as saudades que sentia dos tempos que agora vivemos, queixando-se de que a época de inverno é sempre difícil de suportar, acrescentando: “Nós não somos peixes nem patos. Somos seres humanos...”
Alguém lhe perguntou: “O que queres dizer com isso?” Ficou indignado com a intervenção do seu parente. “O que quero dizer?... Essa é boa! Que já basta de chuva e de água… Isto não pode ser bom para a nossa saúde, porque além de nos molharmos quando saímos à rua, apanhamos um frio gelado que nos deixa como uma espécie peça de carne que tiramos da geladeira do frigorífico...”
Fez-se silêncio. No entanto, era notório que essas observações não concordavam com o parecer de várias pessoas, que se recordavam dos lamentos do autor daquelas tiradas, manifestadas há pouco, sobre as condições climatéricas do tempo que agora nos assola.
Sempre exuberante e devastador, observava sobre este assunto: “Estamos a viver um mês de agosto infernal. Durante o dia, esbaforidos com a temperatura ambiente, que coincide com a febre alta de alguém que apanhou uma doença grave e infecciosa. À noite, suando na cama como se estivéssemos, mesmo sem lençóis por cima do corpo, numa espécie de estufa aquecida... Indescritível, insuportável!... E já nem falo dos incêndios que aparecem em tantos sítios!”
A pessoa mais velha daquele grupo familiar, mãe, avó e bisavó de vários presentes, tomou a palavra e observou: “Sempre pensei e sempre assim vivi: queixar-se do que é possível evitar é caricato... Habituei-me – já estou perto dos noventa – que as coisas são como são e que temos de nos adaptar às circunstâncias. Certamente que, da nossa parte, podemos evitar algum mal-estar, utilizando meios que nos ajudam a suportar com menos sofrimento o calor ou o frio”... E olhando para o queixoso de há pouco, que era seu filho, perguntou: “Porque razão não tens nesta sala um aparelho que a arrefeça um bocadinho..?” Não gostou da observação e respondeu: “Aqui dentro está calor, mas não é insuportável...”
Ela não se calou: “Mas podia estar mais fresquinha esta sala... O que acontece é que estamos todos bem suados, porque tu sempre foste um forreta e não tens nenhum aparelho de refrigeração...”
Como eram todos familiares, aquela observação deu lugar a uma salva de palmas... Ele não achou graça àqueles aplausos. Nada disse em sua defesa. E a mais idosa concluiu: “Estão todos os presentes convidados para jantar no próximo sábado em minha casa... Mas estejam descansados: eu tenho aparelhos de refrigeração do meio ambiente e estarão a funcionar devidamente...” Nova salva de palmas e começaram a jantar, não sem antes terem bebido um bom copo de água com algumas pedras de gelo... Excepto o dono da casa, que considerava uma exorbitância desnecessária preparar daquele modo o jantar.