Os finais de julho não são habitualmente pródigos em factos políticos relevantes, nem cá nem no estrangeiro, quem não está ainda a banhos está a preparar as férias, sejam repousantes ou fervilhantes.
Este ano está a ser diferente. No plano internacional, o evento político serão as eleições para a presidência americana de novembro próximo, onde tudo vinha a apontar para uma disputa entre o incumbente Biden pelos democratas e o ex-presidente Trump pelos republicanos, com pensamentos diferentes, mas amplamente conhecidos do povo americano e de todo o mundo. Não se imaginaria que, com uma diferença temporal de poucos dias, acontecessem duas situações excecionais, o atentado ao candidato num comício e a renúncia à recandidatura.
O tiro que atingiu a orelha de Trump tem muito a ver com a filmografia americana e a própria História, com vários assassinatos presidenciais (lembrando o mito da maldição anunciada por Tenskwatawa, um nativo-americano da tribo shawne, em 1811. segundo a qual todos os líderes americanos eleitos, a cada 20 anos, em anos a terminar em zero, morreriam no cargo, sendo que terão sido sete os Presidentes dos EUA que morreram nessas circunstâncias) ou de candidatos ao cargo (sendo os mais famosos entre os titulares assassinados Abraham Lincoln e John F. Kennedy e de candidatos o irmão deste Bobby) ou tentativas de assassinato como a que sucedeu em 1981 a Ronald Reagan, baleado em Washington. O elo em comum, tal como agora com Trump, foi o estrondoso falhanço dos serviços secretos americanos e da polícia.
A sobrevivência ao atentado de cariz político e a reação poderosa e enérgica de Trump, gerou uma dinâmica de crescimento eleitoral, que o solidificou – com o já icónico penso na orelha – como vencedor na Convenção Nacional Republicana, que ocorreu dias depois. Levei um tiro pela democracia, disse Trump, ele que não é conhecido pela adoração deste sistema.
O quanto o atentado falhado causou a desistência de Biden à candidatura presidencial, ficará por determinar. Certo é que à dinâmica de Trump, à sua força crescente, vinha sendo contraposto um republicano débil, com frases sintomáticas de alguma senilidade, o que foi percebido pelos próprios líderes do partido democrático. Biden não teria provavelmente hipóteses contra Trump, apesar deste manter elevadas taxas de rejeição entre os eleitores. A solução Kamala Harris é de criação do próprio presidente, que logo a avançou numa jogada de antecipação, face à intenção do democrata mais relevante, o ex-presidente Obama, de o fazer desistir para lançar a candidatura da sua mulher Michelle. Harris não alavancou a popularidade no seu mandato como vice-presidente, é uma liberal de esquerda que ativamente defende o direito ao aborto. Se no primeiro momento pareceu inevitável a sua nomeação, obtendo o apoio dos Clinton, não é seguro que a consiga, pois, figuras importantes do partido não a apoiam, desde logo o próprio Obama.
Em Portugal, começaram as negociações para o Orçamento do Estado para 2025. A necessidade de iniciar mais cedo o diálogo, deve-se à inexistência de uma base absoluta de apoio parlamentar que permita ao governo fazer passar o orçamento. Entre o PS e o Chega, únicos partidos com assentos suficientes para ajudar a aprovar o OE, é com o PS que o governo deve conseguir a maioria parlamentar. Se Pedro Nuno Santos está à esquerda de Costa, Guterres e Soares, preso a uma ideologia estatizante da economia, a Realpolitik a que o PS nos habituou, acrescendo a noção que o derrube do governo e novas eleições favorecem Montenegro, que está a governar bem, já levaram o líder da oposição a predispor-se para negociações sérias, sendo que só mesmo o irrazoável tacticismo partidário determinaria que não se abstenha.
Localmente, fica a sugestão para o dia de hoje, em que ocorre, pelas 18h00, no Palácio do Raio, em Braga, a apresentação do Livro “Misericórdias na Construção do Estado Social. Oportunidades, mérito e futuro”, do Provedor da Misericórdia do Porto, António Tavares, com a colaboração de Rita Proença, o qual, nas palavras de Manuel Lemos, é “um interessantíssimo trabalho onde a investigação séria e cuidada, vai a par com a reflexão profunda do que foi, é, e sobretudo poderá ser, o papel destas Instituições e da Economia Social no tempo que passa, mas sobretudo num país europeu com uma História e uma realidade muito própria como é o caso português”.