A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, também conhecida como Corpus Christi ou Corpo de Deus, acontece sempre na quinta-feira a seguir ao Domingo da Santíssima Trindade. Celebrada sessenta dias após a Páscoa, é uma festa móvel que pode ocorrer entre 21 de maio e 24 de junho.
As suas raízes remontam a 1208, quando a freira agostiniana Juliana de Mont Comillon, em Liège (Bélgica), terá tido umas visões em que Jesus lhe pedia que a Eucaristia fosse mais solenemente celebrada. Algum tempo depois, tornou-se famoso o milagre eucarístico de Bolsena (1264), localidade próxima da cidade italiana de Orvieto. Consta que um padre, duvidando da transubstanciação, viu escorrer sangue de uma hóstia. Comunicou o caso ao Papa Urbano IV e este ordenou que os objetos milagrosos fossem levados para Orvieto, em procissão, no dia 19 de junho de 1264. Nesse mesmo ano, a 8 de setembro, mediante a bula Transiturus, o Papa instituiu a festa, mas, porque faleceu menos de um mês depois, o documento teve pouca repercussão.
No sentido de conferir maior esplendor a esta Solenidade, Urbano IV pediu a S. Tomás de Aquino que compusesse para ela alguns textos. E assim surgiram a sequência Lauda Sion, bem como o Pange Lingua, o Sacris solemnis e o Verbum supernum prodiens, textos que são cantados nas celebrações deste dia, assim como na adoração e bênção do Santíssimo.
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo foi promulgada em 1317, no Concílio Geral de Viena, e, no ano seguinte, em Avinhão, o Papa João XXII acrescentou-lhe a procissão solene.
Em Portugal, a festa começou em 1282, por ordem de dom Dinis, embora haja já referências à sua celebração, nos tempos de dom Afonso III. Era celebrada com danças, folias e procissões, em que desfilavam pelas ruas representantes de várias profissões, carros alegóricos, diabos, uma serpe, uma coca (ou cuca) e gigantones, ao som da gaita de foles e outros instrumentos. Entre nós, estas tradições têm ainda uma expressão muito forte em Monção e em Ponte de Lima.
Neste dia, deve fazer-se uma Procissão e os cristãos são convidados a nela participar: “Onde, a juízo do Bispo diocesano, for possível, para testemunhar publicamente a veneração para com a Santíssima Eucaristia, faça-se uma procissão pelas vias públicas, sobretudo na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo” (Código de Direito Canónico, cânone 944). São, por isso, muitas as localidades do nosso país onde se realizam procissões e festas religiosas, neste dia. As varandas são adornadas com colchas, as ruas decoradas com flores e até se faz tapetes no chão, de serragem colorida ou de flores. São também muitas as Paróquias onde, nesse dia, as crianças fazem a Primeira Comunhão.
Braga é uma das cidades onde a Procissão do Corpo de Deus é muito antiga e intensamente vivida. Desde 1923, conta até com a presença do Corpo Nacional de Escutas (CNE), pois foi nessa procissão que se apresentou pela primeira vez em público. Convém lembrá-lo no ano em que o CNE celebra o centenário da sua fundação, em Portugal.
A Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo tem como finalidade sensibilizar para a celebração do mistério da Eucaristia; ajuda a refletir na riqueza deste sacramento e a saborear mais a presença de Jesus Cristo na hóstia consagrada; lembra aos crentes a necessidade de dar graças ao Santíssimo Sacramento pela sua presença entre nós e de dar testemunho público da fé e da convicção de que a Eucaristia é a força que nos motiva e transforma o mundo.
