O novo patricarca de Lisboa, D. Rui Valério, disse este sábado que tenciona dedicar atenção a vítimas de abusos sexuais, pedindo que estas sejam colocadas no centro das preocupações por toda a sociedade.
“O primeiro passo é uma solidariedade e compreensão”, assumiu em declarações aos jornalistas, no exterior da Sé de Lisboa, após tomar posse como patriarca. D. Rui Valério admitiu que as ações que tem em mente podem passar por ouvir e estar com vítimas de abusos sexuais.
“Temos de proceder a uma conversão para com as vítimas. O que é que isso significa? Significa que elas verdadeiramente devem estar no centro. Só a partir da centralidade das vítimas é que podemos ter o discernimento de saber os passos a fazer”, respondeu quando questionado pelos jornalistas sobre um tema que havia abordado no interior da igreja, logo a seguir ao ato formal da posse.
Padre há mais de 30 anos, D. Rui Valério, revelou que acompanhou duas pessoas que foram vítimas de familiares e destacou a situação de uma jovem que ainda hoje apresenta dificuldades de concentração, até mesmo numa conversa comum. Questionado sobre a formação dos sacerdotes a este respeito, respondeu que já existe. “Existe desde o princípio”, referiu, citando palavras do Evangelho, atribuídas a Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o reino de Deus”. “Nós aprendemos e somos formados para proporcionar a todas as pessoas vulneráveis o reino de Deus, não um reino de terror”, sublinhou.
“Acredito na cura integral, envolvendo todos os aspetos possíveis”, acrescentou, prometendo dar à igreja de Lisboa o que sempre deu como padre: presença e proximidade. “Vou ser um bispo da estrada, um bispo da rua. Um bispo junto das pessoas. É nessa ótica que vou alinhar a minha direção”, declarou. Rui Valério recordou as missões no estrangeiro como bispo das Forças Armadas e defendeu uma igreja missionária, para “ajudar a humanidade”. República Centro Africana, Mali, Roménia e Lituânia foram cenários que enumerou.
O patriarca manifestou ainda vontade de escutar os jovens e associou a Jornada Mundial da Juventude, realizada em agosto em Lisboa, ao Pentecostes. “Ao fim desse acontecimento, há uma cena em que se faz a pergunta ´o que devemos fazer´? Penso que a resposta já se encontra no coração de cada jovem que participou naquela jornada”, afirmou.