A Vezeira da Freguesia de Vilar da Veiga é uma prática comunitária centenária que permite que criadores de gado bovino se entreajudem nas despesas e na tarefa de levar o gado a pastar em transumância na Serra do Gerês, em regime de rotatividade, durante os meses quentes da primavera e do verão.
Regulada pela Sociedade de Socorro Pecuário da Freguesia de Vilar da Veiga, sociedade civil constituída em 1802 pelos criadores de gado locais, esta prática nasce de uma estratégia de entreajuda para a maximização de meios e de recursos, por serem escassos.
“Assenta na premissa que, por cada duas cabeças de gado que cada vezeiro possui, fica obrigado a prestar um dia de vigília na montanha, de acordo com uma Roda de Serviço preestabelecida, o que faz da vezeira uma prática com características singulares que a distinguem de outras com o mesmo propósito”, sublinhou a DGPC, em comunicado.
A candidatura foi apresentada pelo município de Terras de Bouro.
Com a inscrição da Vezeira de Vilar da Veiga no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, a DGPC diz que “reconhece e valoriza as dinâmicas atuais de que é objeto a manifestação na contemporaneidade, que extravasa a sua função original – a da criação de gado – e adquire novas ressignificações para o desenvolvimento económico e cultural do território, assim como, na articulação da prática da vezeira para o desenvolvimento sustentável e ambiental do Parque Nacional Peneda-Gerês (PNPG)”.
A vezeira conta, atualmente, com 26 vezeiros, todos residentes na freguesia de Vilar da Veiga, com exceção de um que se encontra emigrado, sendo constituída por 25 homens e por uma mulher como cabeça de casal.
A DGPC salientou que, “dada a sua raiz comunitária e por ser uma tradição muito importante na memória coletiva” daquela comunidade, esta atividade tem, presentemente, um caráter mais amplo e atravessa várias gerações.
A Vezeira de Vilar da Veiga realiza-se em terrenos de utilização comunitária na Serra do Gerês, que se encontram sob a responsabilidade do PNPG, e em currais da Sociedade de Socorro Pecuário da Freguesia de Vilar da Veiga.
“Esta prática decorre entre abril e setembro e é marcada por quatro momentos importantes: o Dia do Chamado (reunião inicial dos associados para estabelecer a Roda de Serviço); o Dia de Covais (subida à serra para a limpeza de caminhos e reparação dos abrigos e currais); o Dia da Subida (subida do gado à Serra do Gerês até ao primeiro curral, com passagem pelo centro da Vila do Gerês); e o Dia da descida da serra e Chamado Final”, explicou a DGPC.
Atualmente, “os dias especiais, como o de Covais e o da Subida da Vezeira”, são valorizados e promovidos pela Câmara de Terras de Bouro e pela Associação Lírio do Gerês como um evento anual de grande relevância para vila do Gerês.
“Como tal, associado a esta prática realiza-se um programa cultural e turístico que inclui, além do desfile das juntas de bois pela vila do Gerês, cortejos etnográficos, percursos guiados pela montanha para visita aos currais e abrigos da Vezeira, prova gastronómica, chegas de bois, concertos e cantares ao desafio”, acrescentou a DGPC.
Na candidatura, a autarquia de Terras de Bouro, liderada em maioria absoluta por Manuel Tibo (PSD), defende que “a vezeira não se esgota enquanto prática tradicional e comunitária de pastoreio de gado bovino na Serra do Gerês”, assumindo-se “como uma manifestação cultural com características únicas com o poder de agregar pessoas e de ser um símbolo identitário da comunidade de Vilar da Veiga que perdura pela vontade dos vezeiros que veemente mantêm a tradição viva e perpetuam o legado dos seus antepassados”.