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Empresários da restauração «desesperados» temem o fecho de estabelecimentos

Empresários da restauração «desesperados» temem o fecho de estabelecimentos
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Publicado em 25 de março de 2020, às 10:52

O setor antevê um futuro bastante negro caso não sejam adotadas medidas urgentes.

Com os restaurantes encerrados há nove dias, desde que foi decretado o horário "zero" pela Câmara Municipal de Braga, levantado depois de acionado o estado de emergência, os empresários da área da restauração de Braga dizem estar «desesperados» com a incerteza do futuro, temendo o encerramento de alguns espaços, despedimentos ou ordenados em atraso. Por esse motivo, foi criada a União de Restaurantes de Braga de Apoio ao COVID 19 que, até à data, reuniu 95 restaurantes de Braga que representam cerca de 1140 trabalhadores da região. Um número que tenderá a aumentar substancialmente nos próximos tempos, abrangendo outros concelhos, já que a preocupação é de âmbito nacional. «A partir do dia 16 março, as nossas quebras de faturação foram de 100%, pois fomos impedidos de trabalhar, situação que ainda hoje se mantém, e que, infelizmente, segundo as previsões do Governo, ainda se vão manter por pelo menos mais três meses. A agravar a esta situação, as medidas anunciadas pelo governo, nadamais são do que uma mão cheia de nada, obrigando-nos hoje a criar uma dívida para que, com o futuro incerto, a tenhamos de pagar» lamenta o porta-voz da URBAC 19. Ao Diário do Minho, Tiago Carvalho explicou que a situação no setor é desesperante. «Fomos obrigados a fechar e as medidas em vigor só fazem sentido para empresas que estão a funcionar, mas nós já deixamos de faturar», explica. Segundo Tiago Carvalho, os ordenados deste mês de março serão muito provavelmente pagos «por uma questão moral», mas não garante que o continuem a ser. «Neste momento estamos em pânico. Olhamos para o futuro e já não é cinzento, é mesmo escuro. Há restaurantes que vão fechar», lamentou. Nesse sentido, a União pede às entidades locais, nomeadamente à Câmara Municipal de Braga e à Associação Comercial de Braga (ACB) para que sirvam de elo de ligação com o estado central, apelando a que algo seja feito para salvar o setor. «Não vemos quem nos ajude (...). Sabemos de esforços que foram já feitos em relação a grupos macroeconómicos e instituições salvas com milhões de euros...», lamentou. Por entre as propostas da URBAC 19 destacam-se a criação de um lay-off adaptado onde o governo assume o pagamento integral dos salários durante o estado de emergência e um outro, após período do estado de emergência, durante um período de três meses, onde o governo assume o pagamento de 50% dos salários; que as contribuições à Segurança Social e IRS fiquem isentas desde o corrente mês e até que termine o estado de emergência, e não suspensas, como é sugerido; que após o estado de emergência, e durante três meses, o governo assuma uma isenção de 50% na Segurança Social e IRS; e a isenção total de taxas e impostos das faturas de água/luz/gás e suspensão sem penalização dos contratos de comunicações. Pede ainda que a banca suspenda o pagamento de financiamentos em curso, apresente juros mais baixos que a linha capitalizar, permita a empresas com dívidas ao estado aceder ao crédito e que as empresas recentes (com o máximo de 30 meses de atividade) possam aceder ao crédito nas mesmas condições, mesmo que apresentem capitais próprios negativos. Confrontado pelo DM com a preocupação do setor da restauração de Braga, o presidente da Associação Comercial de Braga garantiu estar em «contacto quase permanente» com as instâncias superiores, entre elas o Governo, e com os seus associados, de modo a encontrar soluções. Contudo, lembrou que esta é uma preocupação que se estende a todos os setores de atividade que representa. «Temos mantido contacto regular com o Governo, instituições da administração pública, municípios, grupos parlamentares e partidos políticos, propondo medidas que mitiguem os impactos desta crise nas empresas, de forma a salvaguardar a sua sustentabilidade e os seus postos de trabalho», explicou Domngos Macedo Barbosa. Dizendo entender o desespero de muitos associados e vincando o «espírito de preocupação» que paira na associação face à atualidade, o responsável explicou que «uma instituição como a ACB tem outra forma de atuar e não pode perder credibilidade pela forma como se apresenta ao país». «Temos uma forma muito diplomática de agir. Estamos em contacto quase permanente com o Governo e associados», disse, dando nota de que, em oito dias houve já cinco reuniões da direção para dar resposta a questões do Governo e da Confederação. «Estamos a ajudar o Governo a delinear medidas úteis para os empresários. O que fazemos é um trabalho estruturado, fornecendo elementos ao Governo para que avalie e tome decisões. Como nós, outras associações do país o fazem. A ideia é que o Governo sinta o pulsar da situação em todo o país», explicou. Porém, o presidente alertou que esta é uma luta global, sendo necessário «olhar para todos os setores», não descurando o impacto e importância que o da restauração tem. «Tem de sobreviver toda a economia e todos os empresários», frisou Domingos Macedo Barbosa.
Autor: Rita Cunha