Os incêndios florestais queimaram este ano mais de 215 mil hectares, o valor mais elevado dos últimos dez anos, segundo o mais recente relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), ontem divulgado.
De acordo com o documento, que analisa o período compreendido entre 1 de janeiro e 30 de setembro, a área ardida este ano representa mais do dobro da média anual para o mesmo período.
«O ano de 2017 apresenta, até ao dia 30 de setembro, o 5.º valor mais baixo em número de ocorrências e o valor mais elevado de área ardida desde 2007», refere o ICNF.
O distrito mais afetado, no que respeita à área ardida, é Castelo Branco, com 38 962 hectares, cerca de 18% da área total ardida até à data, seguido de Santarém, com 34 705 hectares (16% do total), e Coimbra, com
25 526 hectares (12% do total).
Segundo o relatório do ICNF, até 30 de setembro houve um total de 14 097 ocorrências, de que resultaram 117 302 hectares ardidos de povoamento e 98 686 de mato.
Da análise por distrito, o relatório do ICNF destaca com maior número de ocorrências, e por ordem decrescente, os distritos do Porto (3462), Braga
(1468) e Viseu (1353).
No entanto, em qualquer um dos casos, as ocorrências são maioritariamente fogachos, ou seja, ocorrências de reduzida dimensão e que não ultrapassam um hectare de área ardida. No caso específico do distrito do Porto a percentagem de fogachos é de 89%.
Comparando os valores do ano de 2017 com o histórico dos 10 anos anteriores, registaram-se menos 10% de ocorrências e mais 174% de área ardida relativamente à média anual do mesmo período, de acordo com o ICNF.
Até 30 de setembro de 2017, foram registados 1178 reacendimentos, menos 17% do que a média anual do período 2007-2016.
Quanto ao índice de severidade diário acumulado desde 1 de janeiro, este ano é o segundo mais severo desde 2003, ultrapassado apenas pelo ano de 2005.
Segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o mês de setembro em Portugal continental foi o mais quente dos últimos 87 anos.
No mês de setembro há registo de 1931 ocorrências (58% da respetiva média mensal) responsáveis por 12 274 hectares ardidos em espaços florestais, cerca de 83% da média desse mês.
O mês de agosto lidera com a maior área ardida em Portugal continental (72.184 hectares), que representa cerca de 33% da área ardida total até à data.
Os incêndios destruíram este ano mais de
20 000 hectares de áreas protegidas, queimando mais de 70% do Monumento Natural das Portas de Ródão e mais de metade da Paisagem Protegida da Serra da Gardunha.
Governo ativa apoio
10 milhões de euros
O Governo reconheceu como «catástrofe natural» os incêndios que deflagraram em julho e agosto em 30 concelhos e ativou um apoio de dez milhões de euros, de acordo com um despacho publicado ontem no Diário da República (DR).
O despacho do ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Manuel Capoulas Santos, reconhece «a dimensão e gravidade dos danos e prejuízos causados» pelos incêndios florestais de julho e agosto, o que justifica «a qualificação desta situação como ‘catástrofe natural’».
Esta qualificação permite este apoio excecional à reconstituição ou reposição do potencial produtivo das explorações agrícolas danificadas, nomeadamente animais, plantações plurianuais, máquinas, equipamentos, armazéns e outras construções de apoio à atividade agrícola.
São elegíveis para este apoio as explorações agrícolas onde se tenham verificado danos superiores a 30% do potencial agrícola, confirmado pela Direção Regional de Agricultura e Pescas.
O apoio é concedido sob a forma de subvenção não reembolsável e só é possível apresentar uma candidatura por beneficiário, sendo «dada prioridade às candidaturas em que a dimensão relativa do dano sofrido seja mais elevada».
Autor: Redação/Lusa