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Câmara de Melgaço suspende festival de cinema por falta de dinheiro

Câmara de Melgaço suspende festival de cinema por falta de dinheiro
Fotografia DR

Redação/Lusa

Publicado em 17 de dezembro de 2025, às 18:16

Edição do ano de 2026 ascenderia a 167.000 euros.

O presidente da Câmara de Melgaço revelou hoje que a suspensão MDOC – Festival Internacional de Documentário fica a dever-se à falta de dinheiro do município para pagar o evento.

Em comunicado enviado à imprensa, o social-democrata José Albano Domingues refere que “a equipa da Associação Ao Norte, parceiro que tem organizado o festival MDoc, apresentou um caderno de encargos, com vista à realização da edição do ano de 2026, que ascende a 167.000,00 euros, verba esta de que o Município não dispõe, como não dispõe de fonte de financiamento para assegurar o seu pagamento”. 

O “executivo que lidera a Câmara de Melgaço, no seguimento das últimas eleições autárquicas, deparou-se, após tomar posse, com um passivo total de mais de 26 milhões de euros, com sete milhões de euros de dívidas a fornecedores (não obstante estar previsto que cerca de dois milhões sejam assegurados por fundos comunitários) e com compromissos assumidos no ano de 2025, que transitarão para o de 2026, superiores a 20,6 milhões euros”.

Já na segunda-feira, José Albano Domingues, que venceu as eleições em outubro, pondo fim a 43 anos de poder socialista, tinha avançado à Lusa que aqueles números levaram o município a “não dar continuidade” ao apoio dado ao MDOC.

Hoje, o município fala em suspensão do festival, mas não especifica durante quanto tempo.

“Temos o maior respeito pela cultura, mas temos ainda mais respeito pela satisfação daquelas que são as necessidades básicas da população Melgacense, que tem carências imensas a vários níveis e em matérias tão nucleares como a saúde, a habitação e os transportes”, reforça. 

José Albano Domingues adianta que o executivo que lidera “não deixará de tudo fazer ao seu alcance com vista à reestruturação financeira, na busca de novos parceiros e fontes de financiamento que permitam acautelar o aumento da oferta cultural já existente no concelho, e, sendo caso disso, se reunidas estiverem as condições para o efeito, futuramente, ponderar retomar o festival do cinema”. 

“Nunca como nunca o senhor Jean Loup Passek Passek pediu a realização de um Festival de Cinema em Melgaço”, destaca. 

O historiador e programador Jean Loup Passek, cofundou e dirigiu entre 1973 e 2001 o Museu de Cinema de Melgaço, do qual foi grande impulsionador, assente numa doação do espólio cinematográfico pessoal.

“Nunca participou no Festival MDoc. Mas, ao invés, partiu deste mundo terreno com a grande dor de não ter visto o município a reabilitar o aludido edifício e a afetá-lo àquele que era o seu grande sonho”, recorda o autarca. 

O executivo que lidera a Câmara Municipal de Melgaço garante que honrará o legado e o pedido do benemérito Jean Loup Passek, e apesar da difícil situação das suas contas, e de, em face delas, se ter visto na contingência de ter de redesenhar o projeto, encurtando a construção, concretizará o seu sonho, levando a obra do novo Museu do Cinema avante.

Para a câmara, são opções que há que tomar: ou gastar-se um milhão de euros para reabilitar um edifício com história, e atualmente em completa ruína, para vir a ser o novo Museu do Cinema, ou gastar-se esse mesmo milhão nos 11 anos de realização do festival MDoc.

O autarca reconhece ter sido uma decisão “custosa”, entre as diferentes opções, que “não foi tomada de ânimo leve”.

“Face aos graves constrangimentos de ordem financeira, de fazer uma ponderação cuidada das opções que tinha sobre a mesa, estabelecendo uma clara ordem de prioridades. Entre o deixar de apoiar as instituições, associações e freguesias do concelho, aumentar exponencialmente as tarifas de serviços básicos como água, saneamento e resíduos sólidos, desinvestir em saúde, educação, habitação e ação social, ou suspender o festival MDoc, outra escolha não tive que não a de optar pela segunda das vias indicadas”, especifica. 

De acordo com a organização, na mais recente edição, o MDOC contou com 5.946 participantes.

“Nascido em 2014, o MDOC elegeu desde o início temas urgentes, como a emigração, demonstrando uma forte ligação ao território e às suas gentes. Afirmou-se como um evento cultural de profunda relevância, transcendendo a mera exibição cinematográfica para se tornar um agente ativo de transformação social e preservação da memória”, sublinha a associação AO NORTE.