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Lenda secular associa festividade de São Martinho à prova do sabor do vinho novo

Lenda secular associa festividade de São Martinho à prova do sabor do vinho novo
Fotografia DR

Publicado em 11 de novembro de 2025, às 00:01

Diário do Minho publica hoje suplemento sobre Vinhos Verdes e Gastronomia

A civilização europeia de matriz católica assinala hoje, dia 11 de novembro, o “dia das castanhas e do vinho”. A celebração dos populares “magustos” resulta de um provérbio que fez história. “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o vinho”, convida a tradição secular da velha Europa, que tem São Martinho de Tours (cidade francesa) como seu padroeiro. 

O convite em jeito de desafio tem um propósito bem claro: provar o primeiro vinho do ano, acompanhado de castanhas assadas e boas companhias. É um momento que nos liga profundamente à terra, à agricultura e aos seus frutos. Daí resultam os múltiplos adágios populares convidativos aos prazeres da degustação: “Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo São Martinho”; “No dia de São Martinho, vai à adega e prova o teu vinho”; “No dia de São Martinho, fura o teu pipinho”; “No dia de São Martinho, comem-se castanhas e bebe-se vinho”; “No dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho”; “Pelo São Martinho, todo o mosto é bom vinho”; “Pelo São Martinho prova o teu vinho”; ou “Ao cabo de um ano já não te faz dano”.  

A verdade é que São Martinho, embora sendo o padroeiro de muitas localidades portuguesas e europeias, nada tem a ver com os ritos subordinados ao consumo exarcebado de vinho. Trata-se de uma simples coincidência temporal.  A verdade pura e simples é que a devoção do dia de São Martinho coincidiu com o dia em que tradição profana celebrava a abertura das vasilhas para testemunhar a qualidade do vinho vindimado nesse ano, que acabava de fermentar. Em causa estão rituais que celebram as colheitas tradicionais de novembro, nomeadamente as castanhas e os cogumelos, desde há séculos associadas à “prova” do vinho “novo”. 

Mas o conceito também não ignora a cultura da Igreja Católica, que evoca o milagre das “Bodas de Canã”, em que Jesus transformou a água num vinho melhor do que estava a ser servido, e que acabou antes do tempo, segundo os evangelistas. Interessante é que também notar que o próprio Noé terá sucumbido aos ardores da bebida. 

«O patriarca Noé, após o Dilúvio, plantou uma vinha, bebeu o vinho e embriagou-se”, lê-se no Antigo Testamento, que refere os primeiros efeitos culturalmente conhecidos da ingestão excessiva de vinho. 

Mas ressalvando o extremismo dos exageros, saudável é o que o “verão de São Martinho” é para ser celebrado com castanhas e vinho. As colheitas preciosas do tempo remetem para a ação do santo que possibilitou que o “inverno do pobre” sem roupas de tivesse convertido num verão de conforto.  

E para a história fica um exemplo singular: santo francês nascido em Tours dividiu as sua vestes com um mendigo que padecia de frio extremo e que, segundo a tradição, se veio a revelar o próprio Jesus Cristo. 

“Eu tive frio e Martinho cobriu-me”, reza lenda. A mesma lenda que nos remete para degustação dos prazeres das castanhas assadas no rigor do início do inverno: «Por São Martinho, vai à adega e prova o teu vinho”, aconselha o suplemento de hoje do Diário do Minho.