Promover a descoberta dos clássicos do teatro através de momentos de partilha e reflexão. É este o propósito do projeto “Companhia de Espectadores” que, depois de uma primeira edição de sucesso no verão passado, arrancou ontem no Theatro Circo para uma nova temporada.
Guiados pelo BALA_Núcleo Dramatúrgico, a convite do Theatro Circo, estes encontros serão momentos de partilha e reflexão. «O nosso objetivo é fazer uma análise dramatúrgica dos objetos artísticos que são levados à cena aqui, no Teatro Circo», começaram por explicar Carlota Castro e Maria Quintanas, que orientaram a sessão. Apesar de se pretender que os participantes assistam ao espetáculo antes de cada sessão, tal não é obrigatório já que «aquilo que nós pretendemos é dotar as pessoas de ferramentas que lhes permitam analisar outros objetos artísticos, para além daquele que está no foco da sessão em causa». «Tentamos sempre fazer com que a sessão seja sobre o objeto artístico, mas dando informações de análise dramatúrgica do objeto», vincaram.
Segundo as jovens, a ideia não é explicar às pessoas o que viram nem impor-lhes qualquer tipo de narrativa, mas sim, «partindo daquilo que percepcionaram, dar-lhes um espaço e um tempo onde possam refletir de forma guiada, mas autónoma, sobre aquilo que viram e aquilo que eventualmente vão ver mais à frente».
A Companhia de Espectadores visa também abordar as outras linguagens teatrais, como a cenografia, os figurinos, a luz, o som e, assim, «fazer as pessoas compreender que, para fazer uma obra artística performática, é necessário um conjunto de pessoas com várias valências, com diferentes formações, e de que forma é que todas essas coisas concorrem, ou não, para uma mesma narrativa, para uma mesma dramaturgia, para um mesmo objetivo. Portanto, perceber como é que estas coisas se articulam e de que forma é que nós nos articulamos com cada uma delas».
A sessão de ontem foi de introdução, pelo que não versou sobre qualquer espetáculo. O objetivo foi o de dar as boas-vindas ao público e explicar em que consistirá o programa.
Fazendo uma espécie de balanço da primeira temporada, Carlota Castro e Maria Quintanas consideraram que o resultado foi positivo, pese embora «estes projetos precisem de tempo para marcarem a comunidade». «Temos vindo a ver uma evolução muito positiva e uma envolvência cada vez maior dos participantes e das comunidades. (...) Ficamos com a sensação de que é um espaço onde as pessoas se sentem à vontade para partilhar e de onde saem reflexões e pensamentos conjuntos que valem a pena», referiram.
Para as responsáveis, este tipo de ações são necessárias numa altura em que existe um certo afastamento do público em relação ao teatro, o que fica patente nas salas de espetáculos cada vez mais vazias. «As pessoas não sentem o ir ao teatro como um espaço onde são bem-vindas, sentem mais os espaços de palco como um lugar hostil, onde não vão porque acham que não vão perceber ou porque não têm esse hábito. Queremos capacitar as pessoas para que elas tenham vontade de ir ao teatro, ao museu, e que sintam que aquilo é um espaço onde elas podem também estar e de onde elas fazem também parte, porque, em última análise, o teatro vive da relação entre quem faz e quem vê. É muito importante criar esse sentimento de comunidade», explicaram.