A ASPA - Associação para a Defesa, Estudo, Preservação e Divulgação do Património Cultural e Natural denunciou ontem mais um caso de destruição de património no centro histórico da cidade de Braga. A associação, que tem denunciado vários casos de destruição de património, no âmbito de obras de reabilitação urbana que estão a transformar palacetes em conjuntos de apartamentos, manifesta a sua preocupação pelas alterações que estão a ser realizadas num prédio emblemático da freguesia de São Vicente, em pleno centro histórico.
«Parece estar em curso na cidade uma situação de neo-fachadismo, em que, para transformar moradias unifamiliares em prédios de apartamentos, se destrói o rico interior de algumas casas, com perda de elementos decorativos únicos, nomeadamente tetos em estuque, pinturas murais, escadarias em madeira ou granito trabalhado, claraboias, vitrais, etc», denuncia a ASPA, em comunicado enviado ao Diário do Minho. Na nora de imprensa, a associação vinca que «muitas dessas moradias têm origem no período barroco e outras são transição do século XIX para o século XX, onde reside a herança de “brasileiros de torna-viagem” e do seu gosto decorativo da época».
Para a associação de defesa do património, «Braga tem ficado sucessivamente mais pobre», quadro que se agrava com a denúncia de ontem. «Um dos casos mais significativos dessa destruição é o da casa no 161 da rua de São Vicente. Esta casa mereceu a atenção da ASPA, desde 2016, pelo facto de se tratar de um edifício barroco que consta do Mappa das Ruas de Braga (1750), e apresentar uma pintura de teto com moldura oval, assente em madeira (século XVIII), bem como outros elementos da arquitetura dessa época (tetos em masseira, senhorinhas e escadas interiores de granito, etc.). Para além desta chamada de atenção, a ASPA elaborou o pedido de classificação da Rua de S. Vicente como conjunto de interesse concelhio, que envolve este e outros edifícios, entretanto também vítimas do camartelo», sublinha a ASPA, notando que «o Município [de Braga] fez “orelhas moucas” ao pedido apresentado à tutela do património,tendo em vista a classificação de âmbito municipal».
A associação bracarense salienta que, «desde final de agosto [deste ano], altura em que foi colocado um andaime junto a esta casa do séc. XVIII, a ASPA não tem deixado de alertar, incessantemente, a Presidência da Câmara e o Pelouro do Urbanismo para a destruição que então se prefigurava».
«Alertámos para o risco de perda de património e solicitámos resposta a várias questões, com destaque para as medidas preventivas adotadas no sentido da salvaguarda, “in situ”, da pintura oval de teto do século XVIII. Também solicitámos dados relativos à intervenção licenciada, uma vez que, nessa altura, o Aviso da obra não estava afixado», enfatiza a ASPA, fazendo saber que «dois dias depois da publicação no Diário do Minho de mais um “Entre-Aspas de alerta, constatámos que estavam a proceder à retirada da laje do 2.º piso, onde se incluía a pintura de teto, do século XVIII».
Os «novos alertas» da entidade de defesa do património junto da Câmara de Braga «tiveram também a mesma resposta: um silêncio ensurdecedor», o que leva a associação a questionar «como foi possível permitir-se esta demolição, sabendo que este edifício barroco, devidamente sinalizado no processo pelo Município de Braga, exigia um trabalho de reabilitação minucioso e qualificado?».
No comunicado enviado ao Diário do Minho, a Associação para a Defesa, Estudo, Preservação e Divulgação do Património Cultural e Natural afirma que, «neste momento, só resta a fachada a fachada desta casa do século XVIII», o que leva a ASPA a questionar o que fez a Câmara de Braga «para garantir a preservação, in situ, da pintura de teto com moldura oval, assente em madeira (séc. XVIII), bem como dos restantes elementos da arquitetura original» e que medidas tomou para preservar «a pintura de teto com moldura oval, assente em madeira (séc. XVIII), bem como dos restantes elementos da arquitetura original». A ASPA quer ainda saber onde se encontram esse bens.