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Pelourinho de Braga vai ser “devolvido” à cidade e instalado num local acessível

Fotografia Avelino Lima

Carla Esteves

Jornalista

Publicado em 12 de março de 2024, às 20:50

O investigador José António Barreto Nunes lançou o desafio.Ricardo Rio e D. José Cordeiro “aceitaram” o repto.

O Pelourinho de Braga, símbolo representativo da autonomia municipal, vai ser “devolvido” à cidade e reinstalado num local acessível e visitável por parte de todos os cidadãos, para que a História possa ser transmitida da forma mais fiel possível e a memória transmitida às gerações futuras. A garantia foi hoje deixada pelo presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, em resposta a um desafio lançado pelo investigador José António Barreto Nunes, durante o ciclo “Encontros do Património- Pelourinho de Braga”, promovido pela Fundação Bracara Augusta, com o apoio da Câmara de Braga e do Cabido Metropolitano e Primacial Bracarense.

«Vamos desenvolver um projeto para tentar “devolver” à cidade o Pelourinho nas condições que for possível para que esta História possa ser recontada e o monumento possa ser visitado num espaço ajustado», garantiu o autarca bracarense, vincando a importância da valorização contínua do património material e imaterial para que este possa perdurar para as gerações vindouras.

Também o Arcebispo Primaz, D. José Cordeiro,  considerou que «temos o dever de honrar o passado e a memória agradecida do passado extraordinário que Braga tem, como até o próprio nome o traduz: Bracara Augusta».

Para o Prelado, sendo estas as «nossas raízes mais profundas, é preciso transmiti-las com essa honestidade intelectual e com coragem, para dar razões de esperança aos jovens e às pessoas que visitam Braga cada vez em maior número».

«Temos razões mais do que suficientes para nos sentirmos orgulhosos de habitar este território, esta cidade, e de sermos capazes, na reconstrução histórica, cultural e humana,  de dar memória ao futuro», afirmou o Arcebispo Primaz, respondendo assim ao desafio lançado.

Durante a apresentação deste Encontro com o Património, o presidente do Conselho de Administração da Fundação Bracara Augusta, Miguel Bandeira, revisitou e transmitiu uma boa parte da história dos pelourinhos, tendo deixado também ele um alerta de que «não se dispondo atualmente das peças necessárias para fazer a reconstrução desejável do Pelourinho de Braga», uma reabilitação adequada poderá vir a exigir a reconstrução do capitel coríntio, atualmente em falta no monumento, deixando mais esse desafio ao Município de Braga.

Antes, coube a José António Barreto Nunes dar conta a um Salão Nobre do Município de Braga  “lotado” de toda a investigação histórica que desenvolveu a propósito do Pelourinho de Braga, que atualmente se encontra depositado num recanto do Claustro de Santo Amaro, na Sé de Braga.

Depois de uma explicação detalhada acerca da História dos pelourinhos portugueses, e do Pelourinho de Braga em particular, o investigador deixou então o desafio às autoridades municipais no sentido de «devolver o Pelourinho a todos os bracarenses, colocando-o num local visível, onde possa ser exibido com orgulho».

Antes, o juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça jubilado revelou detalhes do seu trabalho, insistindo no duplo significado do Pelourinho que, se por um lado simbolizava o poder concelhio, por outro suporta uma carga negativa, que perdura na memória contemporânea, tendo servido de local de tortura e expiação de penas criminais pesadas e humilhantes.

O investigador explicou que se entre os séculos XIII e XIV foi construída uma “picota” onde agora se situa a Rua D. Gualdim Pais, o primitivo Pelourinho de Braga foi mantes mandado construir há cerca de 500 anos pelo Arcebispo D. Diogo de Sousa em frente à Porta do Souto, vindo a cair já no tempo do Arcebispo D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Foi então mandado construir um segundo pelourinho, agora com valor artístico, e uma altura de cerca de sete metros, que passou por vários locais da cidade. A partir de 1820 com o avanço do liberalismo, foi desmontado e abandondo por ser considerado símbolo de poder absoluto. Já na primeira metade do século XX seria então recuperado, apenas em parte e depositado no claustro de Santo Amaro, na Sé.