twitter

Livro revela dimensão cívica, religiosa e intelectual de Constantino Ribeiro Coelho

Livro revela dimensão cívica, religiosa e intelectual de Constantino Ribeiro Coelho
Fotografia Francisco de Assis

Francisco de Assis

Jornalista

Publicado em 27 de janeiro de 2024, às 10:36

Publicação da autoria de Rui Ferreira é apresentada às 18h30, no Centro Pastoral da Arquidiocese, em Braga.

O Centro Pastoral da Arquidiocese de Braga, na rua de São Domingos, foi o local escolhido para a apresentação, hoje, às 18h30, do livro “Constantino Ribeiro Coelho” (O Ribeirinho), um dos grandes bracarólogos do século XX. Da autoria de Rui Ferreira, a publicação revela a grande dimensão cívica, cultural, religiosa e intelectual de Constantino Ribeiro Coelho, que está na origem de uma série de serviços e instituições em Braga, incluindo os dois jornais de Braga Diário do Minho e Correio do Minho.

Espera-se uma sessão de dimensão distrital, tendo em conta as ligações de Constantino Ribeiro Coelho a Fafe, mais precisamente a São Clemente de Silvares; à freguesia de Rossas, em Vieira do Minho; mas sobretudo a Braga, onde foi o responsável pela fundação ou continuidade de uma série de instituições e eventos.

Em declarações ao Diário do Minho, Rui Ferreira, historiador e bracarólogo, não escondeu o «orgulho» por ajudar a dar a conhecer ou a reavivar o legado de um homem a quem Braga muito deve. Não só a Igreja, quer na liturgia, quer na sua militância católica, no escutismo; mas a sociedade em geral, com os contributos na fundação de jornais e revistas ou ao ser o primeiro conservador da Câmara Municipal de Braga.

Revelou que o primeiro contacto para escrever o livro veio do Arcebispo Emérito de Braga, D. Jorge Ortiga, já lá vão alguns anos. A família, sobretudo a filha mais velha, Maria Leonor, queria fazer um livro sobre o pai. Mais tarde, percebeu que partilhava com o Ribeirinho o gosto pela escrita sobre Braga, incluindo as festas de S. João.

Trazido para Fafe, pela mão do padrinho, o padre Constantino Alvarez e Alvarez, um galego que tinha fugido da Galiza e radicado em Braga onde acabou os estudos e foi ordenado sacerdote.

Mas foi de Peniche, onde foi pároco, que trouxe Constantino Ribeiro Coelho para Fafe. «Lia muito. “Devorava” os livros e revistas que o padre padrinho tinha, tornando- -se uma pessoa muito culta em diversas áreas. Lia teologia, sabia línguas como latim, alguma coisa de grego. Era uma pessoa ilustrada, para quem não tinha qualquer formação académica superior», considera Rui Ferreira.

Segundo o investigador, Constantino Ribeiro Coelho, “o Ribeirinho”, alcunha com que era carinhosamente tratado devido à sua baixa estatura, mas também como diminutivo de “Ribeiro”, «era espevitado. Mandava cartas a bispos e a padres e era escutado. Pensavam que era já uma pessoa com alguma idade», dado o conhecimento e ousadia.

E Rui Ferreira deu o exemplo de, como responsável da Juventude Católica de Braga, escreveu ao Núncio Apostólico em Portugal, a pedir que D. Manuel Vieira de Matos, então Bispo da Guarda, para ser arcebispo de Braga, que estava sem Arcebispo. «A verdade é que D. Manuel Vieira de Matos foi designado Arcebispo de Braga. Um grande Arcebispo de Braga, após o marasmo também por causa da turbulência causada pela República. D. Manuel Vieira de Matos reergueu os seminários, o Paço entre outros feitos», lembrou Rui Ferreira, salientando, o facto de D. Manuel Vieira de Matos ter sido o fundador do escutismo em Braga e, consequentemente em Portugal. «Constantino Ribeiro Coelho aparece como um dos fundadores do Corpo Nacional de Escutas».

O bracarólogo enalteceu ainda o facto de Constantino Ribeiro Coelho ter estado na origem dos dois diários de Braga.

Antecessor do Diário do Minho nasceu em 1911

O autor do livro lembra que o “Echos do Minho”, antecessor imediato do Diário do Minho, nasceu em 1911, para fazer frente à posição da República.

Mais tarde, devido à ação da monarquia do Norte, quando esta foi derrubada, os conspiradores foram detidos, entre eles Joaquim António Pereira Vilela, fundador do jornal. «Em fevereiro de 1919, suspenderam o “Echos do Minho”, por estar ligado à Monarquia do Norte. E em abril do mesmo ano, o jornal volta às bancas, agora como Diário do Minho. «Mas era o mesmo jornal, feito pelas mesmas pessoas, no mesmo local».

Mais tarde, em 1926, explicou, o Correio do Minho haveria de nascer de uma cisão na redação do Diário do Minho. «O Álvaro Pipa era o diretor do Diário do Minho. Ele entra em rutura com a administração e vai fundar, juntamente com três outros jornalistas, o Correio do Minho. Ou seja, de uma cisão no Diário do Minho, nasce o Correio do Minho, três dias depois. O que quer dizer que já tinha preparado a saída», concluiu Rui Ferreira.

Poeta, humorista, irreverente, gostava de moletinhos de S. Vicente

Na conversa com o Diário do Minho, o autor do livro revela uma série de curiosidades sobre Constantino Ribeiro Coelho.

Segundo Rui Ferreira, devido à sua irreverência, mas sobretudo convicções católicas, no Dia de S. José, Dia do Pai, recusava-se a trabalhar, dedicando o dia à família, sobretudo às filhas. «Gostava muito de moletinhos de S. Vicente».

O “Ribeirinho” era também humorista e poeta. Destaque para um poema que fez à rainha Isabel II, por ocasião da sua coroação. «Era consultado pelos juristas da Câmara de Braga, apesar de não ser jurista, porque tinha conhecimentos de latim. Escrevia muito bem, por isso era ele quem escrevia as atas».

É certo que não foi esquecido, desde à sua reforma até à sua morte, em 1967.

Em 1992, a Câmara Municipal de Braga atribuiu-lhe o nome de uma rua e uma travessa, junto ao Braga Parque.

«Este livro é uma boa iniciativa da família. Ele merece. Acredito e espero que este livro possa voltar a reavivar a memória das pessoas. Porque, de facto, foi um homem ilustre».

Monsenhor Domingos da Silva Araújo será o apresentador da obra. São esperadas as presenças do Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro; dos três filhos de Constantino Ribeiro Coelho, familiares de Joaquim Pereira Vilela, Câmara de Braga, os diretores do Diário do Minho e do Correio do Minho, amantes da cultura e da religião, e bracarenses em geral. Afinal, o “Ribeirinho” era um ativista global.