O Hospital de Braga está a desenvolver um projeto que testa a memória social nas pessoas com esclerose múltipla, por meio de um jogo, enquanto realizam uma ressonância magnética, foi anunciado esta segunda-feira.
Em comunicado, o hospital diz que o estudo arrancou em 2022 e se desenrola numa parceria com a Universidade do Minho, em articulação com o Centro Clínico Académico (2CA-Braga) e com a Escola de Medicina do Mount Sinai, de Nova Iorque. “Temos utilizado uma tarefa inovadora, para avaliar a função de memória social na esclerose múltipla”, sustenta Torcato Meira, médico do Serviço de Neurorradiologia do Hospital de Braga que tem conduzido o desenvolvimento do projeto.
O projeto pretende descobrir se os utentes com esclerose múltipla apresentam défices de memória social e revelar os substratos neurais subjacentes a uma possível disfunção, o que poderá despoletar o aparecimento de abordagens terapêuticas dirigidas a essa disfunção cognitiva.
Na prática, os utentes são convidados a jogar um jogo virtual, enquanto se encontram dentro da máquina de ressonância magnética, “num formato diferente do habitual, no qual os participantes do estudo têm possibilidade de interagir com diferentes personagens virtuais”. “A forma como interagem com as personagens permite inferir acerca da memória que os participantes estão a processar, retirando-se medidas que podemos relacionar com dados de neuroimagem”, explica Torcato Meira.
Os dados de ressonância magnética recolhidos passam por medidas de atividade de diferentes áreas do cérebro e respetivo volume, assim como métricas relacionadas com as lesões no cérebro do utente com esclerose múltipla. O projeto, diz o comunicado, apresenta já alguns resultados clínicos úteis. “De momento, conseguimos já quantificar como o volume total da lesão que estes doentes apresentam no cérebro se relaciona com uma pior performance cognitiva social”, refere Torcato Meira.
Os participantes saudáveis, avança o docente de Neuroanatomia, “ativam áreas expectáveis do cérebro para a realização da tarefa em questão, ao contrário dos utentes com esclerose múltipla, que não recrutam essas regiões”. Posto isto, estes dados sugerem que, para além de lesões estruturais, os doentes com esclerose múltipla apresentam alterações funcionais que poderão estar na origem destes défices nunca antes reportados em esclerose múltipla. João Cerqueira, neurologista do Hospital de Braga, convida os utentes das suas consultas a participar no projeto.
Reunidas as condições necessárias, os participantes deslocam-se ao local do exame, onde realizaram a avaliação imagiológica cerebral e a tarefa proposta (o jogo). Foram recrutados, até ao momento, mais de 20 utentes com esclerose múltipla e outros tantos saudáveis.
O Centro Clínico Académico (2CA-Braga), sediado no Hospital de Braga, é responsável pelo agendamento da tarefa e da avaliação imagiológica e pela execução das mesmas. Além disso, o 2CA é, também, responsável pelo armazenamento anónimo dos dados recolhidos.
Numa fase mais precoce do projeto, desempenhou a função de executar uma revisão do desenho experimental, permitindo que o mesmo fosse avaliado com sucesso pelas entidades hospitalares, que têm de aprovar a sua execução.
A esclerose múltipla é conhecida como uma doença crónica do sistema nervoso central, com uma ampla variedade de sintomas motores e sensitivos, que podem conduzir à incapacidade de trabalho, sobrecarga socioeconómica e reduzida qualidade de vida dos utentes e cuidadores.
No Dia Nacional da Pessoa com Esclerose Múltipla, que se assinalou esta segunda-feira, estima-se, de acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), que existam cerca de 2,3 milhões de pessoas com a doença em todo o mundo. Em Portugal, a prevalência estimada é de 6.500 pessoas com esta patologia.