A Praça do Município foi, na manhã de hoje, o palco perfeito para dar a conhecer o trabalho que vem sendo desenvolvido em vários agrupamentos de escolas de Braga, no âmbito do projeto “O Cavaquinho na Escola”, uma iniciativa de preservação e transmissão da tradição deste instrumento ícone da música regional do Minho, que vem sendo desenvolvido em parceria com o Projet’Arte na Tradição.
Emoldurados pela típica decoração sanjoanina, que por estes dias “invade” a cidade, os alunos que, ao longo deste ano letivo, desenvolveram formação musical em cavaquinho, demonstraram que aprenderam a lição, oferecendo ao público presente na Praça várias melodias típicas do imaginário infantil no Minho.
O grande mentor do projeto “O cavaquinho na Escola”, José Maria Rego, adiantou que este ano letivo houve mais de quatro centenas de crianças a aprender cavaquinho, que se juntaram aos milhares de crianças que participaram nas escolas, ao longo dos cinco anos de vigência do programa.
«Começamos há cinco anos, mas a pandemia fechou o projeto e este é o segundo ano em que estamos a reiniciar e tabém aquele em que tivemos mais crianças inscritas», revelou, acrescentando que desde o início do programa alguns alunos prosseguiram até hoje, entraram em conservatórios, alguns já se encontram a tocar em grupos e outros transitaram para a Orquestra de Cordofones Tradicionais.
«A ideia de transitarem para a Orquestra de Cordofones Tradicionais está relacionada com o facto de depois de terem formação, se quiserem mais ,poderem ingressar num grupo que lhes dê visibilidade e condições de serem artistas», explicou.
Para José Maria Rego uma das grandes conquistas deste projeto consiste na visibilidade que deu a este instrumento que estaria em vias de extinção,se não fosse efetuada esta aposta na formação a nível das escolas, pois até ao início do programa, o cavaquinho era apenas mantido pelos mais idosos, que o usavam como ocupação de tempos livres.
Faltam formadores
«Encaramos este projeto como uma missão: fazer com que este instrumento não desapareça nesta geração. Mas estamos agora a braços com uma dificuldade, que é arranjar formadores para as escolas, apesar de termos oito professores no Porjet’Arte », afirmou, explicando que «os alunos dos conservatórios não têm conhecimento deste instrumento e grande parte destes formadores são autodidatas».
José Maria Rego lamenta que haja ainda um preconceito a este nível nos conservatórios de música em Portugal, que nunca forneceram formação quer em cavaquinho, quer em viola braguesa.
Susana Leite, coordenadora da Região Norte, no âmbito do Plano Nacional das Artes explicou que este plano está sob alçada dos Ministérios da Cultura e da Educação, que inclui três eixos, sendo que, no âmbito do Eixo C “Acesso a Cultura e Educação” estão definidas medidas dirigidas em particular às escolas.
«Uma dessas medidas é a construção do Projeto Cultural de Escola, medida em que é privilegiada a aproximação das escolas ao seu território, olhando para as organizações culturais ao redor e trabalhando com os Municípios, com pais e associações», argumentou, explicando que é precisamente através desta medida que o projeto “Cavaquinho nas Escolas” está inscrito no Plano Nacional das Artes.
Defendendo que é importante que as tradições comecem a ser valorizadas a partir dos mais novos, Susana Leite afirmou que é indispensável que assim suceda para que «enquanto adultos eles venham a ser agentes culturais com outra forma de pensar a cultura e as tradições».
Vincou ainda que «não sendo um programa obrigatório, o Plano Nacional das Artes, é «um caminho para tornar as escolas palcos culturais, para fazer cultura nas escolas e para levar essa programação feita por crianças para fora da escola».