Vila Pouca de Aguiar está a valorizar o património mineiro do concelho, numa estratégia de preservação de um importante legado histórico, que tem potencial para atrair turistas e dinamizar a economia local.
Vila Pouca de Aguiar quer classificar o complexo mineiro romano de exploração de ouro de Tresminas como Património Mundial da Unesco, numa extensão do estatuto que foi atribuído em 1997 às minas espanholas de Las Médulas.

A arqueóloga Patrícia Machado explica que Tresminas foi uma mina de ouro romana que não voltou a ser explorada depois dessa época, o que lhe confere «um estado de preservação ímpar a nível nacional e internacional». Assim sendo, o que os visitantes encontram na atualidade é muito semelhante ao que existia à época do abandono da mina, no início do século III.

«Este não é um sítio arqueológico tradicional. É um conjunto de infraestruturas romanas que sobreviveram à passagem dos séculos, permitindo que hoje se consiga reconstituir o que era uma mina romana desde o tempo de Augusto até ao tempo de Sétimo Severo, que é a baliza temporal a que reportamos», explica.

Tresminas foi uma das mais importantes explorações de ouro do Império Romano, tendo funcionado ao longo de cerca de 250 anos, integrada na procuradoria de minas de Astúrica e Galécia. Calcula-se que tenha havido a remoção de 9 milhões de toneladas de rocha e tenham sido extraídas 20 toneladas de ouro.

Esta responsável refere que, reconhecendo que este sítio é de facto ímpar, ao longo das últimas décadas tem sido feito um trabalho de valorização do complexo, que abrange uma área de 289 hectares, classificados em 1997 como imóvel de interesse público.

A primeira medida passou por garantir a segurança do espaço, com a identificação das galerias e dos poços e a colocação de grelhas de proteção nesses locais para evitar acidentes. Paralelamente, foi definida uma rede de trilhos para que os visitantes possam percorrer as infraestruturas mineiras dentro de um perímetro de segurança.

Na localidade de Tresminas foi construído um Centro de Interpretação que conta a história das minas e apresenta os objetos que foram sendo encontrados. Para breve, está a inauguração de um centro de acolhimento ao visitante, que vai funcionar como porta de entrada no complexo mineiro.
Entretanto, Tresminas recebeu luz verde de Las Médulas para que fosse apresentada à Unesco uma proposta de extensão da classificação como Património Mundial, num processo semelhante ao que envolveu a zona arqueológica de Siega Verde, declarada Património Mundial como extensão do título do Vale do Côa.
A investigação científica continua a decorrer, enquanto se espera a inscrição de Tresminas como monumento nacional, passo indispensável para o avanço da candidatura a Património Mundial da Unesco.
A especialista refere que estas duas minas são complementares para compreensão da tecnologia e métodos de exploração mineira dos romanos.
Centro Interpretativo preserva memória de Jales
A mina de Jales também remonta época romana, mas foi explorada no século XX, entre 1933 e 1992, tornando-se na última mina de ouro que funcionou em Portugal.

A preservação e divulgação do espólio e da memória deste complexo estão a cargo do Centro Interpretativo Mineiro de Jales, em Campo de Jales. Esta estrutura foi inaugurada em fevereiro deste ano, resultado de um investimento de cerca de 600 mil euros.
O centro interpretativo ocupou a casa do guincho do poço de Santa Bárbara (padroeira dos mineiros).


Na impossibilidade de recuperar as galerias subterrâneas originais, localizadas por baixo da aldeia e cheias de água, foi feita uma réplica que permite ficar a conhecer as condições de trabalho na mina.

Destaque para a explicação das diferentes profissões necessárias para o funcionamento da mina e equipamentos exigidos para a execução dessas tarefas, sendo também possível encontrar documentos de identificação dos funcionários.

Patrícia Machado explica que este polo museológico procura valorizar o lado humano, a partir do espólio cedido pela população local. «Em Tresminas focamo-nos na metodologia e na tecnologia das minas, enquanto em Jales centramo-nos nas pessoas», diz a arqueóloga, sublinhando que este projeto «resulta da vontade e da pressão exercida pela comunidade local», que assim tem «a oportunidade de contar a sua história».

A mina foi um importante fator de desenvolvimento da aldeia, que teve eletricidade, posto médico, farmácia, supermercado ou refeitório muito antes das outras localidades. No período de maior pujança, o complexo chegou a ter cerca de mil trabalhadores.
O encerramento deixou marcas profundas na comunidade, que se sentiu abandonada. É, por isso, com expectativa que a aldeia vê as notícias relativas à possibilidade de ser retomada a exploração mineira, desta feita no filão da Gralheira, um núcleo que também tinha sido identificado pelos romanos.
A marcação de visitas a Tresminas pode ser feita pelo telefone 259 458 091 ou pelo correio eletrónico
[email protected]. No caso de Jales, os contactos são 259 458133 e
[email protected].
Águas levam nome de Pedras Salgadas pelo mundo
A água mineral natural gasocarbónica de Pedras Salgadas leva o nome do concelho pelo mundo. O parque onde é possível provar a água diretamente da nascente é um ponto de visita obrigatório.

Embora haja indicações que os romanos já conheciam estas águas, os dados apontam 1871 como a data oficial da exploração das águas termais vocacionadas para problemas do aparelho digestivo.

Frequentadas por personalidades nacionais ilustres, como os reis D. Fernando e D. Carlos, as termas impulsionaram o desenvolvimento local. A existência de um casino e uma oferta hoteleira de 1500 camas – diz-se que superior à da cidade do Porto – eram sinais da pujança de Pedras Salgadas.

Após o declínio que afetou o setor das termas, surgiu entretanto o Pedras Salgadas SPA & Nature Park, um conjunto turístico de quatro estrelas que inclui SPA termal, as casas da árvore e “eco-houses” da autoria do arquiteto Luís Rebelo de Andrade e restaurante, entre outros serviços.

O acesso ao parque é gratuito, podendo-se provar a água e caminhar num recinto com cerca de 20 hectares.
Castelo é testemunho das Terras de Aguiar da Pena
O Castelo de Aguiar de Pena é um dos monumentos emblemáticos de Vila Pouca de Aguiar, tendo sido na época Medieval cabeça administrativa e militar das Terras de Aguiar de Pena. Este território foi desmembrado nos concelhos de Vila Pouca de Aguiar e Ribeira de Pena.

A anterior à nacionalidade, esta fortificação sobranceira ao Vale de Aguiar é considerada um castelo roqueiro por ter como base gigantescas pedras graníticas.

Com data de construção incerta, o castelo teve ocupação entre o século XII e o início do século XVI. No século XIV recebeu obras significativas, como se pode constatar na porta que liga a barbacã à sala da janela seteira, que apresenta, do lado de fora, o aspeto da obra de melhoria e, do lado de dentro, o arco de volta perfeita da construção do período anterior.


Foi abandonado em 1527, depois de ter perdido importância estratégica para o controlo das terras.

O seu espólio pode ser encontrado no Museu Municipal Padre José Rafael Rodrigues.
Concelho quer encantar visitantes com natureza, gastronomia e tradições
“Vila Pouca de Aguiar – Terra de Encantar” é o mote com o qual o Município está a apostar na dinamização do setor do turismo.
Para além do património mineiro e termal, a natureza, a gastronomia e as tradições são atrativos com os quais o concelho promete cativar os visitantes.
A vice-presidente da Câmara Municipal, Ana Rita Dias, recorda que o concelho de Vila Pouca de Aguiar era uma referência turística nos tempos dourados do termalismo. O concelho quer, agora, retomar esta dinâmica, através da promoção de todo o seu potencial.

A natureza é um dos pontos fortes, destacando-se imagens impressionantes como o pôr do sol na Serra da Padrela ou a vista panorâmica do Miradouro do Minhéu.

O Caminho Português de Santiago Interior, certificado em outubro de 2021, e a Estrada Nacional 2 atraem cada vez mais turistas ao concelho.
No sentido de promover os produtos endógenos de excelência, a autarquia está a levar a cabo certames como a Feira das Cebolas e a Mostra Gastronómica, que teve como protagonistas o cabrito, as castanhas e os cogumelos.
Autor: Luísa Teresa Ribeiro