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Confraria do Abade festeja 20 anos ao serviço da promoção da gastronomia

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Fotografia Miguel Viegas

Luísa Teresa Ribeiro

Chefe de Redação

Publicado em 05 de dezembro de 2024, às 22:03

Jantar comemorativo decorreu no concelho de Vila Verde.

A Confraria Gastronómica do Abade acaba de festejar 20 anos, num momento de celebração que serviu para reiterar o compromisso de continuar a trabalhar para a preservação da autenticidade dos saberes e sabores da comida da região Minho.

A gala de aniversário realizou-se no passado sábado, na Quinta da Aldeia, em Gême, Vila Verde, com a presença do ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, da presidente da Câmara de Vila Verde, Júlia Fernandes, e do adjunto do presidente da Câmara de Braga, Pedro Soares, entre outras personalidades.

Numa noite de emoções fortes, o presidente da Confraria do Abade, Agostinho Peixoto, lembrou os primórdios desta organização, quando Henrique Moura lhe pediu para ir a um jantar no restaurante O Abade, local onde mensalmente se reuniam apreciadores da boa gastronomia.

No dia 9 de novembro de 2004, foi constituída a Confraria Gastronómica do Abade, por 11 fundadores, motivados pela «paixão por saber mais», num ambiente de convívio. «Sentíamos na altura, como sentimos agora, que é nossa obrigação transmitir às gerações atuais e futuras uma cultura gastronómica e vínica que é, sem sombra de dúvida, um dos principais vetores da nossa identidade cultural, diria económica», afirmou, considerando que é preciso «saber evoluir sem mascarar e agredir a tradição gastronómica».

Atualmente, a confraria tem 48 confrades, acumulando duas décadas de trabalho, ao longo das quais se destacam 206 jantares, mais de 2800 receitas e mais de 2000 vinhos provados, mais de 180 mil euros investidos na restauração, 17 mil euros canalizados para os produtores de vinhos só nos últimos três anos, 17 municípios visitados, três livros publicados, finalista das 7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa e semifinalista das 7 Maravilhas da Doçaria Portuguesa, oito concursos do Pudim Abade de Priscos e mais recentemente a concretização do sonho da instalação da sede em metade da Escola Primária de Priscos, espaço cedido pela Câmara de Braga.

Sublinhando que as conquistas vão para além dos números, o dirigente lembrou que o Minho é «um território possuidor de história milenar, que ao longo dos tempos foi deixando testemunhos gastronómicos que são hoje referência nacional e internacional. Braga e Vila Verde são referência de bem comer, onde a gastronomia é fundamental para a criação de uma imagem de qualidade e excelência».

«Foi e é neste quadro de missão que nos inserimos com afinco e força de um verdadeiro guerreiro, na convicção de que há ainda muito mais e melhor por fazer pela gastronomia de Braga, de Vila Verde, do Minho e do país», declarou.

Agostinho Peixoto assegurou que a Confraria Gastronómica do Abade vai continuar «o trabalho titânico na defesa da autenticidade da gastronomia e na defesa e promoção dos Vinhos Verdes e dos vinhos portugueses, na defesa e promoção de uma Carta Gastronómica do Minho, na defesa do Pudim Abade de Priscos».

Em seu entender, as confrarias gastronómicas e báquicas devem «desenvolver as suas ações com vista a lutar contra os efeitos da globalização e/ou adulteração dos produtos regionais e locais, intensificando ações de sensibilização e (in)formação para a gastronomia portuguesa e para os vinhos portugueses, envolvendo nestas ações as escolas, as famílias, os profissionais de turismo, o setor público e privado da atividade turística e outros estratos da população nacional».

Agradecendo às Câmaras de Braga e de Vila Verde, este responsável manifestou o empenho na valorização do acervo gastronómico dos dois concelhos. Deixou o reconhecimento público a personalidades que contribuíram para o percurso da confraria, designadamente Vítor Sousa, António Barroso, José Manuel Fernandes, António Vilela, Júlia Fernandes, Ricardo Rio, ao confrade Laurentino Santos e respetiva família, proprietária da Quinta da Aldeia, pelo apoio prestado ao longo dos anos, aos membros dos órgãos sociais da Confraria, aos restaurantes que têm acolhido os jantares mensais, aos produtores de vinhos parceiros e aos convidados palestrantes.

Ficou também a saudade em relação aos confrades que faleceram: Henrique Moura, Luís Lopes e Paulo Melo.

 

Gastronomia é fator de atratividade

Unidos pela figura do Abade de Priscos, os municípios de Braga e de Vila Verde estão apostados na valorização da gastronomia como fator de atratividade.

A presidente da Câmara de Vila Verde, Júlia Fernandes, referiu que o concelho está sempre disponível para apoiar o que puder ser feito em torno da figura do Abade de Priscos e da gastronomia.

A autarca disse que Vila Verde e Braga são concelhos vizinhos, que sempre trabalharam muito bem à volta do Abade de Priscos, considerando que todos os esforços são bem-vindos para promover a gastronomia.

Esta responsável salientou que o concelho de Vila Verde tem-se destacado como «um destino excelente para comer».

Lembrou a Rota das Colheitas, programação que dá a conhecer os saberes e sabores das 33 freguesias do município, que culminou com o domingo gastronómico dedicado ao Arroz de Pica no Chão à Moda de Vila Verde – marca registada, que está em processo de certificação – e ao Pudim Abade de Priscos.

Por seu turno, o adjunto do presidente da Câmara de Braga, Pedro Soares, manifestou igualmente a disponibilidade da autarquia para colaborar com as iniciativas da Confraria do Abade, considerando que a valorização da gastronomia é «estratégica» para a afirmação turística do concelho.

Este responsável afirmou que só foi possível Braga ter arrecado pela segunda vez o galardão de “Melhor Destino Turístico Emergente do Mundo” porque houve pessoas que durante 20 anos se dedicaram a garantir a autenticidade da gastronomia do concelho, fazendo com que os visitantes tenham «experiências inesquecíveis».

Em seu entender, mais do que um hotel bonito ou uma paisagem, são as sensações que se vivem, como as proporcionadas pela gastronomia, que fazem com que as pessoas voltem aos destinos.

Recorde-se que o padre Manuel Joaquim Machado Rebelo nasceu em Turiz, Vila Verde, em 1834, onde está sepultado. Ficou para a história como Abade de Priscos, em Braga, tendo sido destacado cozinheiro e criador do pudim que inspira a Confraria Gastronómica do Abade.

 

Ministro desafia chefes a usarem receitas do Abade de Priscos

O ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes, desafiou os chefes a utilizarem as receitas do Abade de Priscos, que estão publicadas em livro.

À margem do jantar de gala dos 20 anos da Confraria Gastronómica do Abade, o governante referiu que o Abade de Priscos foi inovador, tendo deixado um relevante património gastronómico para ser explorado. «Pudim Abade de Priscos é tradição, memória, património, mas também é economia», afirmou, apontando a gastronomia como «sinónimo de atratividade para os territórios».

«Temos que reforçar a nossa competitividade com aquilo que nos distingue, que nos diferencia, que tem um sabor inigualável. Nesta região, temos o Vinho Verde, o Pudim Abade de Priscos, a maçã da porta da loja, a produção animal, com as raças autóctones, que devemos valorizar. São produtos importantes não só para a gastronomia, mas também para a coesão territorial. Implicam e significam investigação e inovação, mas também biodiversidade. A agricultura é desde logo segurança alimentar, o que significa comida de prato, mas hoje a agricultura, face aos desafios globais que enfrentamos, é inclusivamente defesa», declarou.

 

Federação das Confrarias Gastronómicas alerta para escassez de produtos nacionais

O presidente da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, Alcides Nóbrega, alertou o governo que começam a escassear produtos nacionais necessários para a confeção da gastronomia tradicional.

Este responsável referiu que é preciso «começar a olhar não só para o prato, mas também para a terra», sendo necessário produzir os produtos de qualidade que fazem falta para manter a gastronomia como património nacional.

Como exemplo apontou a «riqueza extraordinária» do nosso receituário de pão, advertindo para a falta de cereais nacionais que assegurem a manutenção da sua qualidade.

Alcides Nóbrega considerou que o trabalho das confrarias gastronómicas também passa pelo lançamento destes alertas, essenciais para a salvaguarda patrimonial. «As confrarias são guardiãs da gastronomia, de um património riquíssimo que Portugal tem», afirmou, lembrando a importância deste setor para a economia e para assegurar postos de trabalho.

O dirigente revelou que, no próximo mês de março, vai decorrer um grande evento nacional de homenagem às mulheres na gastronomia, uma vez que existe uma «dívida de gratidão» em relação ao trabalho feminino, que ainda não foi devidamente reconhecido.

 

Vinho apresentado em jantar de gala

A gala comemorativa dos 20 anos da Confraria Gastronómica do Abade ficou marcada pelo lançamento oficial do Alvarinho Reserva da Quinta Picouto de Cima, produtor de Gominhães, no concelho de Guimarães, mantendo-se desta forma a tradição de aliar a gastronomia aos vinhos nos jantares confrádicos mensais.

A Quinta Picouto de Cima foi adquirida em 1997 por Albertino Rodrigues Ferreira, que desde então tem vindo a alargar as referências disponíveis no mercado, com enologia de Pedro Campos.

A próxima novidade, possivelmente ainda antes do Natal, é o Arinto Reserva, como explica Taciana Ferreira.

A quinta tem 15 hectares, dos quais dez são vinha, produzindo cerca de 50 mil litros por ano, vinho escoado sobretudo através da exportação, para mercados como Holanda, Irlanda, Estados Unidos e Luxemburgo.

Os planos passam por aumentar a produção para 100 mil litros, quando entrarem em produção os três hectares de vinhas novas que existem na propriedade.

Paralelamente, quinta tem uma casa com quatro quartos, que tem feito sucesso no mercado internacional, com turistas de Espanha, Brasil, Suécia ou República Checa.

A gestora revela que Quinta Picouto de Cima vai reforçar a aposta na vertente de enoturismo e nos eventos, nomeadamente através da realização de casamentos até 50 pessoas, sendo este número estipulado para manter um ambiente intimista e personalizado.

Para a próxima primavera está já previsto um evento para mulheres ligadas ao mundo do vinho.